terça-feira, 22 de maio de 2012

se a vida fosse apenas as fotos..| e que lindo se for apenas vida né, e os seus florescentes..






a gente subia a irineu comelli, entrava num descampado do lado de um motel que volta e meia mudava de nome, andava mais um pouco, e chegava num lugar cheio de barranco,  pedreiras, mato. era bem amplo, vista bonita porque lá era mesmo, alto. de vez em quando a gente ia caminhar com a mami e o papi.


o primeiro lugar que a gente morou quando chegamos foi o centro histórico de São José. a casa era legal, tinha um quintal de fundo bem lindo com umas frutíferas, que subia e depois da cerca era um matão, não lembro de quem nem de que.


eu reclamava horrores, tinha que subir o morro, só tinha três horários de ônibus lá e quase nunca casava horário.


eu amo essa foto. Leonardo amava esse pai. ele foi o que mais sofreu acho, no sentido de dramas com despedida, falta doída e muitos lamentos. todos sofremos né, mas a dele foi aquela perda de novela, e não dizendo de um modo ruim, é que ele sente e sentiu assim, e eu sinto por ele. 

se a vida fosse apenas fotos essa representaria um não acontecido, uma possibilidade, raridade, um desejo, um sonho.

pra mim ela tem saudade, nostalgia e melancolia. eu olhava essa foto ao longo do tempo, era difícil a convivência deles, pai e filho, mais do que a minha.

a conta é simples, Leonardinho aprontava coisas do arco da velha o tempo todo, e o pai vivia irritado com ele, ríspido por vezes, o léo sempre carente, levando uns fora, e como aprontava horrores até a gente vivia furioso com ele.

que será que significa arco da velha?

bom, o Leonardo deu pro pai a Júlia. e a relação de avô e neta era a coisa mais linda do mundo. eu olhava os dois e pensava, nossa comigo deve ter sido assim, enquanto eu era bebê e mininha foufa. mas fato que tenho observado, esse negócio de ser avô, avó, muda tudo mesmo.

eu queria muito que Cibe tivesse essa oportunidade. queria que o meu pai soubesse que eu fiz uma coisa bem linda que eu disse que nunca ia fazer, e acabei fazendo muito bem feito, uma menininha que ia deixar ele louco, mas que ele também ia adorar amar.

a Júlia aproveitou. foi bem triste a despedida deles no hospital, ela tem lembranças, videos e causos, tem historias pra contar. e a Cibe tem as nossas histórias. eu disse pra ela que meu pai a pegou pela mão, e trouxe ela pra mim. e que cuidava dela no parquinho do céu enquanto ela esperava pra vir. e ela gostava de ouvir, 

enfim, isso.










saudade, essa facínora..


[uma vez eu li um texto, exercício de sala de aula, era pra escrever outro texto, incluindo uma frase do original. 
era a história de um casal que se rrrrrrrasga de saudade, espirra sangue de tanto sentimento,
apesar da distancia infringida por seus temperamentos. 
gente teimosa....]
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Amantes do verdadeiro amor

Uma mulher espera.
Quem sou eu que em muitos anos de vida não saberia dizer de espaços infalados pelo grande mundo? E já passei por muitos deles, outras e outras paisagens, haja vista! Prática de praxe: o que é banal aqui vale como a vida aqui, e lá. E assim  caminho, para frente e para os lados, inverto alguns pólos... mas sem nunca voltar. Sem voltar para aquele ponto, aquele que deu início a partida.
Incrível, como dizer? As vezes só passamos pelo sentido do amor uma única vez. Uma apenas! E é com essa intensidade, e é com essa verdade, que ultrapasso todas as eventuais possíveis relações de atração no futuro, após sua perda. É que o cheiro, o cheiro deste ‘de “verdade amor” se alastra e atrai, comove e pacifica. Prospera-se e vende-se com esse encanto! É assim que se vive...
Esse com certeza é o amor que tem o poder de falir resoluções. Mas, o que dizer? Eu ainda sou eu, e até hoje não consegui ser diferente. Por isso nunca de volta, e não de novo com ela. Isso porque lá, o plural da distância se transforma no singular de estar junto, e a paisagem, a paisagem de repente estanca. E já não existo mais.

Um homem viaja.
Quem sou eu que em muitos anos de vida não saberia dizer quantas vezes vivi e revivi a mesma história, sem saber sentir algo diferente, que não seja o mesmo amor? Prática de praxe: fico aqui, daqui não me movo, recriando você a cada passo de nosso caminho, te sentindo, novo e de novo, e a cada nuance ... quase que te vejo!
Incrível, como dizer? As vezes só passamos pelo sentido do amor uma única vez. Uma apenas! E é com essa intensidade, e é com essa verdade, que ultrapasso todas as eventuais possíveis relações de atração no futuro, após sua perda. É que o cheiro, o cheiro desse ‘de verdade amor’ se alastra e atrai, comove e pacifica. Prospera-se e vende-se com esse encanto! É assim que se vive...
O que falar da espera, e o que falar do tempo? Ora, tempo é aquilo que ele precisou no passado, e hoje é o que lhe mais falta, caso ainda queira descobrir as paisagens e as paisagens que são possíveis construir, quando a dois. Esse é o sentido da espera. E já não existo mais.
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E depois do fim, o mesmo desespero. A mesma ardência em corpos que jamais esfriam. Impregnam e contaminam o entorno com seu cheiro, que trás em três doses o desejo, com o sentido virulento e desmedido de busca e falta.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

pensando sobre..




pensando sobre o que é que eu estava pensando sobre, .. agora que estou voltando pra casa sem filha de bobeira num ônibus, tentando lembrar dessa foto. eu não sei, pode ser quanto estávamos de bicicleta por aí eu e Danilo.

curto mostrar pros alunos fotos antigas e atuais, pinturas, registros de artistas viajantes em contraposicao  à imagens da atualidade. fotografias antigas também, aquelas da paisagem vista do alto do Morro da Cruz sabe, também dão uma coisa estranha.

lembro agora de uma das vistas do Victor Meirelles em que pinta a paisagem bem do centro de Florianópolis, até o mar. nunca sei direito se é a Trajano ou a Deodoro que subindo láa no alto dá nessa igreja que tô falando. esses ontem e hoje que pensando no hoje já imagina que show de terror que não vai ser uns saltos de futuro a mais.

hoje estava andando pelo centro, depois de ter entregue a Cibe pro pai, passei por um senhorzinho que me chamou de bruxa. fazia tempo que não ouvia boberinhas na rua, mas essa eu adorei. sei lá, tudo bem que saí e nem penteei o cabelo direito, minha mãe me chama de bruxa por menos, ela gosta de trança. pode ter sido por isso e o fato de estar toda de preto.

cigana, crente, exótica, indiana, do rock, qual é o teu estilo prof.?..  a depender da roupa, já ouvi de tudo. acho engraçado. meus alunos, alunas, de vez em quando tiram uma onda da minha roupa, estranham, eu gosto. mas já me irritou também. e detestava que me comparassem com a Frida, não sei porque, mas tinha retranca de usar trança por causa disso. nóias.

quanto estudava Turismo e Hotelaria, e transitava muito por ali, gostava de sentar a escadaria da catedral, ficar ali quando tinha que matar um tempo. muitas vezes. gostava de ficar olhando a praça, as pessoas pra la e pra cá.

Centro né, hoje foi rápido e bom. tem sido cada vez mais diferente até, porque tenho ido pouco. já estava louca pra voltar pra casa.



30/05/23







A caneta bic azul



Eu não sei quando a caneta bic foi inventada. Talvez na juventude dos meus pais. E deve ter sido bárbaro! Fato é que passei eu parte de minha infância com vergonha de usá-la, (assim como usar havaianas). Com ela em mãos, sentia-me colocada em uma ala de pessoas super-simples, ou super-sem-pretenções, ou super-sem-graça, sem nunca ser eu mesma, “A”, para ser aquela mais uma da caneta bic. Isso ou ser invisível dava na boa mesma.
De vez em quando, compro canetas bic. Tudo no casual de parecer simples. Parecer super-simples, super-despretencioso, ou até super-sem-graça virou “febre” em um grupo seleto que, depois virou não mais tão seleto. Então os que se sentiam mais desprivilegiados, embaraçados, rebaixados em sua condição de usar uma bic começaram a se revestir de um certo “conceito”, dizendo “isso não me preocupa” ou “essa é a minha proposta”, ou então, não dizendo nada...
Ele tem uma caneta bic azul sem tampa. Dessas que todo mundo tem, mas já bem a conheço. É ela que passeia por suas mãos, hora útil, hora completamente inútil, até cair no chão. Várias vezes ela cai no chão. A sua performance do “foi sem querer” e do “com licença” para recuperá-la já é comum para mim, e para caneta bic azul.
Às vezes ela falha. Me pergunto se é a mesma, sim, porque poderia realmente ser outra. Mas aquela bolsa murcha, e aquelas folhas soltas já eram um indício: era sempre a mesma, e era sempre a única.
Na sala de projeções, no mais pensado dos acasos que pude criar, viro para trás e: “me empresta uma caneta?”; era isso aí, a caneta dele. Ele sem a caneta, e eu com a caneta dele.
Por que ele é gentil.
Ela passeou na minha mão, me distraí com ela, passando-a por todos os dedos. Ela até caiu também! E então já era hora de devolver... Não precisei de fato usá-la. Nada do que ouvi ou vi naquele momento me trouxeram palavras a escrever. Mas era importante usá-la antes da separação! Ao menos marcar na agenda o dia, o momento que passei, vivi, toquei, compartilhei, algo assim...
E foi então.
A caneta bic azul era preta na frase, “pra não dizer que não te usei”!

05 de maio de 2009