quarta-feira, 8 de maio de 2024

caídas e recaídas | sonhar dormindo, sonhar acordada, eu quero minha brecha de saída

perdida numa roda eterna de uma cerimônia indígena 

repetindo, repetindo o mesmo dia para ver se dessa vez conseguiria sair, mas tendo essa consciência aos poucos

lembrando em pontos diferentes dos marcos da cerimonia, que já tinha vivido aquilo

levemente angustiada 

pensando em fazer melhor cada parte

sem entender porque estava presa

cheirei  um sopro de fumaça de mandioca

isso foi inusitado

fui chamada por quem ja sabia, recebi uma marca,  e marquei um rosto também, com uma gosma macerada dessa mandioca 

mas eram vários marcos muito estranhos, parte de um todo, com funções masculinas e femininas bem delimitadas e em consonância, por vezes concomitantes

e eu me lembro daquele homem enorme indígena que eu fui numa cerimonia uma vez ali em Biguaçu, fazendo um canto e dança lindos, tudo mais de uma vez, repetido

e em tudo que vivia tentava me concentrar 

porque eu tinha que achar o lugar certo de sair, estava presa na mesma cerimônia, e tendo ajuda, para tentar encontrar o ponto diferente e certo, de sair

mas aprendendo e entendendo simbolismos cada vez mais


achei que já ia acordar para trabalhar...

e ainda é só agora

e eu estou só aqui

com meu estômago embrulhado e explodindo 

eu ein

estou dormindo, ou acordada aliás?..

lendo testos de amor do passado de uma pessoa triste parecida  comigo escrevendo imagens bonitas de sua realidade, que por mil e outras vezes não será mais minha, e nem sua. 

que pena que a vida passa, rindo da gente, da nossa presunção, inocencia talvez, 

nosso tempo se esgota, nossa vida é finita

será que ela também quer que a gente ache uma brecha, antes de tudo repetir..

será que ela quer que agente desperte no processo, pra ver se saímos pela porta certa desse ciclo eterno, cerimonial e sagrado, de algo que vivemos que não é de nossa  tradição, mas que nos reconhece, acolhe, e está paciente, por nós?

receio de dormir

pode que meu estômago não deixe

acordei com gosto de mandioca crua, e aquele branco na impressão imediata

esquisito e viajandão demais

dormir,

quero.