quinta-feira, 17 de março de 2022

segunda-feira, 14 de março de 2022

suspensão ou, | meio-fio, trilho do trem, portão da Telepar

 

equilíbrio perfeito filha, ó de um lado são as pedreiras, do outro é o rio com os crocodilos de cabeça pra fora, que lado cê prefere cair? ... é assim que a gente volta do portão quando levamos o lixo, nos equilibrando no meio-fio da ruazinha, sempre tentando salvar uma à outra do desastre iminente.

em todas as vezes eu volto hipnoticamente pros meus meios-fios. o trilho do trem com minha mãe, e suas histórias. inclusive lembrei agora do dia em que ela fugiu de casa pela linha, andou, andou até cansar, e depois voltou, como se nada fosse. as mil idas e vindas da escola pra casa pela beira da calçada. ou a prova, a alegria da geral, que era o portão de metal da Telepar em Itambaracá onde a gente se juntava. ele era alto e estreito, mas não tanto, perfeito para ir e voltar sem cair, ir e voltar e cair, só ir, só voltar, ir pela metade, cair, voltar, ir e se quebrar um pouco, cair de novo, ir, ir de novo, aquela coisa. 




sábado, 12 de março de 2022

borracha no lápis | você leva o que você escolhe que leva | homenagem | paz

 



estar longe de quem se ama pode não fazer diferença, quando ela se vai.

o amor estava lá, estava aqui, estava em todo lugar. não há erro na posição dos peões porque as jogadas nunca nos são dadas  a priori. essa alíás, uma grande prerrogativa. 

você perde alguém que ama, e agora toda a sua experiência, toda troca, conhecimento compartilhado, os sentimentos trocados e/ou provocados, todas as palavras, gestos ou faltas, construções, desconstruções, não se perdem. moram em você. você é o representante em vida dessa história, dessa  vivência. o que você faz? como você honra, como você leva, a quem você entrega no futuro, como um tesouro de experiência, quando você cavar com as mãos, o seu buraco para o fundo da terra?




quinta-feira, 10 de março de 2022

 


cartografia da ausência


formigamento, que te toma aos poucos, e você não nomeia
uma força intensa, que te invade, e você não se desculpa
uma saudade muda, seca, que nenhum texto entrega.

quinta-feira, 3 de março de 2022

como uma onda, ou | aquele presentinho que você amou fazer

 





quando eu fiz esse desenho pra dar de presente pra uma pessoa que não conhecia a cidade onde moro percebi, eu nunca tinha desenhado uma onda.

certamente eu nunca desenhei muita coisa, assim como nunca escrevi nem falei todas as palavras do meu idioma também, assim como nunca fiz muita coisa que  não tenho vontade, sei lá, pular de paraquedas, ver o branco e sentir o frio de lugares gelados, e tanta coisa que é minha preferência ou intenção genuína não fazer.

para além do meu celular onde digito tem o véu do cortinado, a grade da janela aberta, céu e nuvens, de um jeito que pelo meu palpite vai ter sol já já, mas se eu me levantar um pouco, a paisagem de verde, casas e prédios também vai me mostrar um pedaço de mar. eu gosto. por vezes sinto culpa, vou pouco, deveria ir mais, mas no geral, só aquele pedacinho estar ali, me faz bem.

estive escrevendo a primeira vez que vi o mar na infância, né, meu passado veio muito muito forte nesses tempos, assim como ações mais recentes, coisas que eu fiz, que eu gosto de ter feito e que eu deveria valorizar mais na minha trajetória. esse resgate tinha um desespero. não era consciente muito, vinha, só vinha, e muita coisa nem lembrava mais, vinha aos poucos os detalhes. uma história, a minha, na busca de encontrar valores e razões para ficar, porque eu nunca tinha tido isso tão forte, essa vontade, chamando um acaso até, para terminar tudo. coisa que já disse, nunca achei que fosse sentir de novo.

eu preciso escrever, é a minha limpeza, é meu extravasar. é meu desvio de tarefa preferido, é um mergulho. lembrei agora de uma astróloga que me disse que eu tinha mercúrio em câncer, o que me dava profundidade na comunicação. 

eu soube o que talvez um dia já estudei pesquisando com a Cibe os planetas que mercúrio é bem pequeno se comparado aos outros de sua vizinhança. quando ouvi isso de estar em câncer imaginei esse planeta num fundo de mar, tornando minha comunicação turva e lenta, engraçado, mas não muito.

eu quero e vou levantar da cama, mas tô enrolando, ontem foi um dia de rua, cheio de umas coisas meio sérias que me desgastaram e me fizeram apagar cedo. hoje será um dia mmuuuuito lento, imersa que estou em mim, tentando não me contaminar pelo meu lado auto-crítico e tentar fazer uma e outra coisa sem pensar nas outras 500, pra tentar passo a passo sair desse fundo, que não é de água, meu fundo não é água gente, mas preciso parar aqui. café.