terça-feira, 27 de outubro de 2020

dentro da terra

 


eu sei que não sou novela e que o que eu escrevo não há de ser tão interessante, ou por muito tempo. 

sei que deve haver muitas realidades melhores que essa que vivemos hoje. e que em algum momento, necessário se faz correr, se transformar, e abandonar o presente, e o passado, por elas.

sei que nossa sorte como indivíduo é lançada a cada dia, e que existem muitas suscetibilidades.

sei que a gente não deve levar muito a sério o que é pra ser simples, e que é legal simplificar grandes temas, mas sem banalizá-los.

sei que minha sopa de letras refina minhas experiências e maquia meus demônios.

.. sei que, saindo do campo das ideias, a terra sempre me mostra que existe um poder de manifestação nas minhas mãos (na de qualquer um né), então plantar, cuidar, receber ou não retornos, adaptar ou não o cuidado, morrer, viver, brotar ou não, faz parte dessa mágica da vida. e canalizar esse poder criador é forte, porque é sensível.

então sobre fincar raízes, finalmente esses dias criei coragem e plantei algumas mudinhas no chão da casa do futuro. sou indecisa, ainda estou, sobre exatamente o que plantar e onde, mas foi um impulso, espontâneo. era mais uma necessidade de aterrar, de chegar, de estabelecer relações, e de me colocar nesse pequeno mundo, o qual ainda gravito.

e não sei bem qual vem, mas são plantas simples, generosas, e saturadas de vaso, então.. nos embalos da crescente, acho que está tudo certo. manjericão, capuchinha, amora silvestre (que não sei bem o nome), o boldo da Cibe, e ela, a dama-da-noite, aquela que me atiça os sentidos, adoça minhas noites, que demora pra brotar, cresce incrivelmente devagar, e a que mais gostaria de ter próxima a minha varanda. 

agora é com elas... a seu tempo e se adaptando ao entorno. estabelecendo suas conexões silenciosas e fazendo o seu caminho, independente do que eu quero e sei.



"já sempre mesmo estive aqui"..

debaixo da pitangeira





terça-feira, 20 de outubro de 2020

um isolamento datado

 


Nome completo, idade, profissão/atuação, naturalidade ou reside desde quando em Floripa, moradora de que bairro da cidade.

Bruna Mansani, 40 anos. Professora de Artes Visuais, Rio Vermelho, Florianópolis. Sou natural Paraná, resido aqui desde 1994.

O que mais gosto em Floripa.

Ainda no Paraná, me mudava muito de cidade. Quando cheguei aqui com minha família em 94 , estabilizamos. O que mais gosto daqui é o fato de que todas as histórias que passei, todos os marcos que ultrapassei, tudo que desisti e conquistei, tudo que eu amei e frutifiquei se concentra e é influenciado por essa mesma locação. A mesma praia, mesmas ruas, bairros, faculdades, com familiares, amigos ou amores diferentes, sem perder a intensidade do presente, mas sempre sobrepondo essas camadas de história. É um lugar onde sempre consigo me surpreender e  expandir meu mapa mental a partir de uma mesma paisagem revisitada, ou desbravando recantos. Ressignifico a historia local, sobrepondo minha própria história, por isso sinto que já vivi em muitas Florianópolis. É uma cidade afetiva pra mim. Nunca tive vontade de sair.

Qual seu lugar preferido de Floripa e por quê? Diga se, por motivo da quarentena, tem conseguido vivenciá-lo. (Pode ser local, estabelecimento, paisagem, etc.)

O perto ficou longe. A família fragmentada, afastada apenas pela distância da convicção do perigo e do cuidado. Moro próxima a lugares lindos como a praia do Moçambique, mas essas locações, ineditamente pra mim,  ocupam um lugar da sedução que podem significar morte para alguém. Permaneço em casa.

 O que a quarentena vem lhe ensinando, deflagrando?

Tem pouco tempo que saí morta de um Pantanal e renasci num Rio Vermelho que  agora pulsa dentro de mim. Numa iminência global, precisei  levantar a cerca que separa tudo o mais, do meu pequeno mundo dividido com minha filha. Nesse espaço circunscrito brotam em intensidade medos, arrependimentos, saudades, decepções, angústias... que me esmero para que se transmutem em adubo e fertilidade no meu canteiro de esperança, fraternidade e amor.

Enviar uma foto sua e a do lugar/estabelecimento/etc de floripa




Legenda imagem 1: Bruna Mansani e sua filha Cibele, de 3 anos, por Estefânia Fraga Pedroso
Legenda imagem 2: Bruna Mansani e sua filha Cibele, de 3 anos - Selfie Bruna Mansani


13/05/2020

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me pediram no início do 2020 pra responder quatro questões referentes ao recém isolamento instaurado. estavam pedindo para diferentes pessoas, de pontos diferentes da cidade.

aceitei. mas com um pouco de receio. fazia tempo que eu não escrevia, e estava bem longe de querer transformar aquele momento em registro. mas o que não se faz pelos migues né.

nada demais também, .. além de um tom dramático acima do normal acho. e pra ser justa, fico feliz de não reconhecer o tom, porque significa que agora vejo de fora alguns aspectos dalí. 

foi a minha primeira reflexão escrita mais formal em bastante tempo.  tinha que vir morar aqui.




segunda-feira, 19 de outubro de 2020

la princesse insensible


a primeira vez que assisti um desenho do michel ocelot foi um pouco depois de 2000, com as amigas mães da facul e seus filhinhos fascinados pela animação Kiriku e a Feiticeira, 1998. Cibe com 1 ano já super curtia, até vou colocar de novo, faz tempo que ela não vê. depois veio Azur e Asmar, 2006, amei, e depois disso em algum momento resolvi pesquisar o que vinha antes disso, e então encontrei em francês Príncipes e Princesas, de 2000, feito de sombras, e meu assunto de hoje, A Princesa Insensível, 1983. Esse papo de príncipes e princesas está bem questionado hoje em dia, gosto, é importante, pertinente e até tardio. a temática está aí, tem muita coisa linda feita, justamente para fruir e receber um olhar crítico, o que proporciona uma profundidade maior, amplitude a suas tramas, especialmente junto às crianças. 

quanto a mim, eu amo a estética dos desenhos de Ocelot, as cores, fico mesmo encantada, deve ser lindo de ver no cinema. inclusive, falando nisso, Dilili em Paris, 2020 na área.. quando será que vou ver? no mundo antigo acredito que teria passado na Mostra de Cinema Infantil daqui da city. maaas, enfim, voltando.. essa mini série mexeu com meu coraçãozinho bobo na época, e sim, ainda acho muito fofo. 

são 13 episódios bem curtinhos sobre um rei que estava muito preocupado, pois sua filha não demostrava sentimentos, parecia que nada a interessava. então o rei anunciou um concurso, com grandes apresentações, e o primeiro príncipe que a fizesse demonstrar qualquer emoção, ganharia sua mão. 

o primeiro episódio eu coloquei aqui, pelo yt agora tem todos, dá pra ver. eu veria, inclusive agora, .. sem mais.. =)








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domingo, 18 de outubro de 2020

michel ocelot e meu ep. favorito



 
pode ser que um beijo seja mais que sede. que seja mais que a sobreposição de pontos. que seja mágico, mesmo.. acho até que o primeiro, em alguém que  se deseja, que goste, que queira muito, tem disso, né?

o que há para crescer em me ser. o que há para crescer em te ser, o que será de teu, e de meu, tão precioso. num beijo seu, no que tudo se transformará, e num beijo meu, no que tudo se reconfigura? 

* sempre me reapaixono por esse episódio, e por você, quem é vocé? e quem sou eu?




sábado, 17 de outubro de 2020






nessas entremudanças 2020, estava na casa da minha mãe, e escrevi um texto sobre essa impressão, exatamente essa impressão, um texto igual, mas diferente. onde eu coloquei será gente. mais uma coisa pra procurar.. sei que bati o olho nesse texto hoje, agora, e caara, não acredito que já tinha escrito. déjàvu de texto.  

eu e minhas folhas soltas.
se eu encontrar, vou repostar dia desses..





 

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

16/10 – 16h30 mais uma lua nova em 2020

 

a espera da lua nova. tempo de prospectar, iniciar novos projetos, deixar pra trás, liberar, largar o medo, desapegar para lançar algo novo no universo, falar assim até me faz rir, mas tudo bem.. sigo.

então a bruna adolescente queria presentear sua mãe. não lembro a ocasião. sei que fui numa  livraria e  comecei a olhar vários temas até que parei num manual de bruxa que tinha uma diagramação linda, capa dura e uma caixinha, claro, era perfeito pra mim, quem nunca né . . aí como gostei, acabei comprando pra ela, e não foi barato.

quando entreguei pra ela, teceu comentários sobre sua beleza, foleou um pouco e depois de agradecer, coisa e tal, disse algo como o livro ser bonito, mas que devia ter sido caro, que não valia a pena ficar com ele pois era mais bonito na forma do que tinha conteúdo, que era pra eu ir trocar. eu sabia quando ela estava tentando falar as coisas com jeito. esse era um dos casos. e eu entendi, mas fiquei com uma ponta de mágoa, pq sou dessas né, e fui trocar, absolutamente não lembro pelo que.

antes de ir, abri o livro com cuidado, na parte de dicas anotei duas no meu diário. e, .. ontem fiquei caçando esse diário pelas caixas, já sabia que ela estava chegando.. no meio da tarde de hoje é lua nova. 

e porque essas duas dicas, e  porque só duas? lembro de ter feito isso e sentir um quê de transgressão. lembro de abrir o livro com bastante cuidado. então..

ritual de casa nova. entrar numa nova casa, ambiente, é uma grande mudança pra você e pro ambiente que vai te acolher, a casa também é um ente. é interessante se apresentar a cada ambiente da casa e brindar com vinho.

ritual de lua nova. a lua nova é uma lua criança, como toda criança adora poesia rimada. faça pedidos em rima para lua nova criança, ela tem boa memória e enquanto cresce vai te ajudar na realização.

esse da casa nova conto para todos os amigos que se mudam, desde então, e o outro sobre pedidos pra lua nova conto pra qualquer pessoa amiga que esteja a minha volta no momento em que a vejo, ou lembro. uuui já criei rimas terríiveis haha, vamos ver como sairemos nessa primeira vez, eu e Cibe. bom pra projetos novos e conexão com os ritmos da lua.  acho fofo, acho querido, e daria um abraço bem forte naquela bruna, que conversa comigo hoje. 

recentemente coloquei em prática no primeiro dia que eu e cibe entramos na nossa casa do futuro, as apresentações. e foi lindo, eu com vinho, ela com suco de uva, e a gente foi nos espaços da casa nos apresentar.. tipo, "oi quarto do futuro, nós somos bruna e cibele, vamos morar aqui agora e a gente espera ser muito feliz com você" .. e fazíamos um brinde, tomávamos, e seguíamos pra outro cômodo. simbolismos.

a segunda é a razão do texto, acordei com ela, pensando.. acho que precisamos de uma rima boa nesse novo ciclo =)..  pra ser divertido, e porque tá na hora de ficar leve junto com a lua, pra então crescer com ela. desejar, ter humor, rir e sonhar..

e aí, sou dessas, acredito nessas coisas, minha cara né? pois.., tenho um ceticismo arraigado. gosto de fingir que nao tá lá, relativizo esse lado, passo temmpo tentando absorver sem julgar aspectos da vida que não são feitos exatamente pra fazer sentido. então assim, tô melhorzinha, ee no mínimo, é isso, tão simples e lúdico quanto simpatia pra tirar verruga. e as vezes funciona. =)



e por fim.. não tava aqui, 😑






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a espera da lua nova. tempo de prospectar, iniciar novos projetos, deixar pra trás, liberar, largar o medo, desapegar para lançar algo novo no universo, falar assim até me faz rir, mas tudo bem.. sigo.


e você,

qu'est-ce que tu veux de mois, mesmo?

minhas palavras me cansam, tenho cansado muito de mim nesses textos nem te conto.


15/10/23


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eu ainda gosto de brincar de estar sozinha, mas com alguma companhia e ficar lembrando de outras Brunas. mas na medida de hoje, não de ontem. 

um coração fechadinho, um modo sobrevivência, como chama aquele modo de celular?

pode ser o silencioso, ou o modo economia de bateria. os dois funcionam pra ideia.


04-12-23









segunda-feira, 12 de outubro de 2020

sem trilha | paralelos

 

essa sim. essa não. tô aqui tentando trabalhar e estou bem assim mesmo, essa sim, essa não, até que alguma passa despercebida e quando vejo, já é.

eu tenho músicas proibidas. e também já passei por situações de ser surpreendida por ganhar uma musica proibida e me reapaixonar por ela.

problemas com trilha? apenas uma questão de restituição.





entre 2006 e 2009 quando não largava esse caderno por nada










esse gostinho

 



eu observo as fotos. essa feição, a expressão. era pra ele que eu olhava, confiava, admirava. como eu gosto de ver. eu reencontro o amor mais puro que já senti por meu pai, antes de se contaminar muito com as tramas novelescas da vida, que adicionam um véu ao que é mais importante.

antes dele morrer eu fiz um exercício muito forte de me apegar ao que é mais importante. abraçar, beijar, cuidar, ser otimista idiota, aquela que jura que milagres existem contra fatos óbvios. nos últimos dias dele tinha dor física, tinha ele fingindo que conseguia comer sem desconforto pra não magoar a gente, tinha a gente fingindo acreditar, tinha umas patadas inesperadas, tinha noites de hospital com emendas em trabalho, tinha uma faca em cima da minha cabeça, tinha uma iminência, tinha .. como dizer, uma pouca resistência a ideia da morte dele. ele ia, já tinha aceitado e já desejava isso, pra não vê-lo sofrer. já tinha revisto e jogado fora as mágoas e estava investindo na profunda gratidão por tudo que ele conseguiu fazer por mim do jeito que ele pode. e aceitei  as palavras tímidas, o que veio de carinho, assim como compreendi e aceitei o que não veio. reconheci as tentativas como prova de amor, agradeci.

o que é mais importante? o que é mais importante? o que é mais importante? foi meu mantra nesse período. entrega, foi a sensação do período. perdão e agradecimento, foram muito presentes.  quis liberar tudo, quis entregar pra terra tudo de ruim junto com o corpo dele. 

no dia das crianças eu penso nele, porque se eu olho pra trás tem ele sempre fazendo ponta em alguma lembrança, por presença ou por ausência. não sou chegada a homenagens piegas, nem ele, que faria um comentário irônico pra cada frase, corrigiria meus erros de português,  e ainda me chamaria de chata.
não tô nem aí pai. 
saudades e pronto.
e chato é você, eu ainda tô no play..



agora.. 
como é que eu faço pra Cibe ser feliz, plenamente protegida pra poder viver imersa nessa inocência infantil, criar, recriar, interagir em inteireza sem que nada corte esse fluxo, essa energia, essa força motriz pra vida? penso muito nisso. quando recebi ela no colo foi exatamente essa sensação que veio.  tenho uma amiga com aquela frase histórica do incrível, "eu queria ser incrível mas não consigo", pois é, eu também queria. mas meu olhar é atento, pelo menos gostaria de não reproduzir coisas que não achava legal desde pequena. é muito fácil, automático reproduzir, .. sigo tentando não. 

é o segundo dia 12 por coincidência que ela passa com o pai, nesse novo modelo de família. eu fico feliz com a felicidade dela, eu respiro fundo e permaneço bem aqui. 






terça-feira, 6 de outubro de 2020

eu não sou gato de ipanema..

  
eu lembro da linha do horizonte, aquela paisagem em que a  vista se perde

das calçadas largas

das plantações de cana, trigo, café, algodão

na época de queima da cana caía uma chuva de cinzas na cidade toda, uns floquinhos que ao tocar no corpo se desfaziam. roubar cana não pode! cuidado com as plantações de cana! especialmente mulheres..

na colheita de algodão a gente se metia no meio pra brincar, quem colhia mais algodão, e mais rápido? aí nossos montes iam pros conhecidos.

no trigo era esconde-esconde, pega-pega.

o cafezal só sabia ser lindo, mas as vezes punha umas frutinhas vermelhas na boca.

nas minhas cidades também tinha uma época em que chovia besouros, muitos, e meu irmão mais novo corria atrás de mim pra jogar no meu cabelo. fazia isso com as cigarras que explodiram também.

a gente se metia no mato, nos pastos. eu adorava tirar cristal da terra. eu tinha uma coleção de pedras e folhas! e na mudança de estado, nunca me esqueço, se perdeu.

tinha um comercial que dizia sempre pra prestar atenção ao botar sapatos, pois  você nunca sabe o que poderia ter dentro. aí de uma bota de sítio saia uma cobra. e eu sempre ficava impactada com aquela cena.

minha mãe e meu pai faziam canteiros. em uma casa, em Siqueira, fizeram linhas compridas no quintal onde plantaram milho. ficou lindo, e nos fundos a gente pegava suas folhas longas e balançava na cerca, não era muito perto, mas as vacas vinham comer, adoravam e a gente também, fazíamos sempre.

em Siqueira também, não depois dos seis anos, eu senti uma dor aguda na barriga. era apendicite. doía muito. fui internada, ganhei muitos agradinhos, fiz bastante manha. doía muito levantar, tinha que chamar a mãe toda hora quando em casa, um tempo sem escola, aquela coisa... nessa época resolveram asfaltar nossa rua. eu me lembro de estar no solzinho da calçada, e passavam máquinas pra lá, pra cá, pedronas pra lá, pedrinhas pra cá, asfalto pra lá, pra cá, muitas e muitas vezes, e eu não entendia muito, apesar de estar atenta e imersa. .. sempre penso que se não tivesse operada teria saído bem antes, mas na verdade foi bem hipnótico. depois disso nunca mais vi asfalto tão bem feito como aquele.

tinha as brincadeiras de rua ao entardecer, as vezes eu ia, outras não tinha coragem  só ficava olhando de casa. eu tinha um quê de trava, então ir ou não ir, a interação ou não, nunca era tranquilo, mexia comigo. 

é.  ..sou bicho do Paraná, como diz a música do João Lopes, que também era trilha de comercial de TV. 

mas sem muita nostalgia sabe. não troco nenhuma hora do meu presente por um momento de vida no passado. sei de onde vim, celebro o que sou, e acolho as experiências que me constituíram. 

tudo parece tão longínquo.. literatura pra minha Cibe talvez,

e só.





agora, francamente gente, esse cabeelo..   |   Itambaracá/Pr





segunda-feira, 5 de outubro de 2020


um texto pode dizer nada ou muito.
as vezes se tem muito a fazer, não faz, e o texto diz do que não disse e o que não fez. mas aumentando, diminuindo, se evadindo..
todo modo o texto é meu, depois seu, depois de ninguém, ou de todos.
se esses textos forem seus tanto quanto tomo textos por aí, então eles serão puro abandono. por isso que exercito a despretensão.


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domingo, 4 de outubro de 2020

quando menina








circo

estava na cidade natal dos meus pais. os adultos resolveram levar seus pequenos ao circo. eu estava animada, curiosa, feliz. mas no meio do espetáculo caiu uma tempestade, muitos trovões.. isso é meio nebuloso pra mim mas, parece que tiveram que interromper a sessão. eu lembro das pessoas saindo rapidamente, e próximo da saída tinha uns homens martelando com força as estacas da tenda, que continuavam se soltando do chão. eu assustada, comecei a chorar. um dos moços das estacas olhou pra mim e falou "não fica com medo, não vai cair".


 

linha do trem

você já tentou, já aconteceu por acidente, por inexperiência, ou magnetismo, de se aproximar muito do trem em movimento, e se sentir puxado, com dificuldade de se afastar, e por segundos, ficar entre sair, ou se deixar levar, tendo que fazer esforço pra se afastar?



do lado de fora do tabuleiro

um dia eu pedi pro meu irmão mais velho me ensinar a jogar xadrez. eu tinha uma fascinação por aquelas peças, aqueles mistérios, estratégias, o jogo de poder me intrigava. mas aquele adolescente em modo saco cheio eterno, principalmente com a irmã mais nova disse, é complicado, muito difícil pra você. bem, ainda quero.










 

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

jenny holzer



Série Truism - Times Square, 1986

e o papo de que sua mente é criadora? detesto ouvir esses papos de co-criar, dá até uma gastura, especialmente quando vejo alguém muito convicto nesse poder de mente e tals.  não sou convicta de nada, o que dá margem pra muita coisa acontecer que não me surpreende, ou que surpreende pra valer, então deixa assim. mas até por isso ando tentando cuidar, outro dia olharam no fundo do fundo dos meus olhos e disseram, cuida do que você pensa, seja positiva, isso como quem podia ler toda a casa bagunçada da minha mente.

é que também é algo instável. se eu penso na Cibe ou nos meus pais, em como foi a vida deles conosco, penso em coisas boas, edificantes.

se penso no meu estado e disposição atual, penso em coisas que não sou muito legais não.

se penso no meu trabalho, aí tem uma balança oscilando sempre.

se penso que quero ser uma pessoa viável integrada ao meio que vivo, não vem coisa muito boa também não.

se penso que eu quero voltar a compartilhar meu amor com inteireza novamente, baseado não nas pessoas, mas em como eu lidei, li, essa situação intensa de desenlace, não sinto ou penso muito muito bonito não.

se penso que gostaria de contribuir com um mundo melhor, e ainda não sinto que fiz, não penso positivo da minha capacidade de conseguir.

então, que eu seja mesmo protegida dos meus ímpetos e capacidade de otimismo, da descrença que chega primeiro, do meu eu de hoje. ninguém merece.

mas existe beleza em mim, uma vontade de leveza em qualquer situação da vida. apesar de saber que aparento, muitas vezes é isso mesmo, é aparente essa leveza e calma. alguns amigos às vezes soltam, você coloca muito peso nas coisas. para com isso! pffff, saco, mas tem verdade.

eu não sei de nada. tem uma faceta de mim muito devota, que reza pra algo maior que eu, ou que isso aqui tudo. um lado que se abre para energias mais sutis e harmoniosas. recebo presentes de luz, de vida, de amor, alegria, e quando sinto em mim, quero distribuir, contaminar diferente meu entorno.

é Jenny.., essa frase continua sendo minha, que me protejam mesmo, e me inspirem a qualificar esse meu querer e vontade de querer.


30/05/23

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

o que compõe o que a gente é | três luas


as músicas do meu pai, minha mãe, as músicas dos dois. trilhas infernais com início as 6 da matina que deixavam a bruna adole enfurecida.. meu irmão aprendendo violão clássico, com um trecho em looping pra sempre. ou então tirando uma música popular, enroscando por dias nas mesmas frases e acordes. meu outro irmão roubando o violão do mais velho, e aprendendo a tocar sozinho, nas horas vagas do outro. 

tantas músicas que eu não gostava e aí passei a amar. as músicas que eu não gostava, e ainda não gosto, mas que se tocam por acaso, trazem uma emoção muito forte, de algo, e de um tempo, que eu não sei bem. e esse repertório vai se formando ao longo, e as vezes você é levado a  revisitar.

se alguém pergunta qual meu tipo de música, recebe resposta meio decepcionante. não tenho muitas paixões, nem sou convicta de nada. passeio pelas músicas de forma abrangente, com apegos momentâneos que se refazem a todo momento, com um repertório crescente, variado, meio sem identidade, mas compondo uma unidade em si, dentro de mim.