sábado, 30 de outubro de 2021

know-how, astrologia de bar, planos para 2022, ou, feliz aniversário adiantado


estava na travessa depois do trampo no MVM entre amigos.  em dado momento comuniquei a todos que era meu aniversário.

me olharam com cara de "xiii...."  mas nem tinha bebido muito ainda sabe. expliquei que naquele ano não havia comemorado meu dia na data certa,  que estava muito insatisfeita em ser geminiana, e que esse ano o que eu queria mesmo é ser de escorpião. era isso, não tinha solução, só assim minha vida ia mudar.

uma amiga, ouvindo, manifestou também desgosto com seu signo e perguntou se eu não queria dividir minha nova data com ela. no caso ela só mudou de bicho, saiu de câncer para escorpião, a minha troca acho que era um pouco mais ousada, afinal, um signo de ar vai fazer o que dentro da água? ..mas estava decidida.

era só uma trufa, mas tinha duas velinhas. fincamos nela, cantamos parabéns, fizemos pedidos, cada um deu uma mordidinha, e... aí simm! por um ano.





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hoje caminhei até a praia no fim do dia depois de muito tempo longe. mencionei meu pai não lembro porque, ah sim, entrada de novembro, e uma amiga disse para ascender uma vela pra ele. eu não entendi, então ela me lembrou que hoje é dia propício, então acho eu vou.

 

"libriano.  eu sou é libriano." era com todo seu sarcasmo que matiínha soltava essa pela casa, quando a mãe destampava a falar "mal" dele a partir de seu signo solar.

minha mãe adorava, gosta ainda, mas falava muito em astrologia. e eu, ouvinte distraída e preguiçosa, descrente, não me reconhecia muito nas caixinhas.

mas desde minha mãe, a muitos amigos amantes, já entendi que existe uma complexidade. ouvi algumas vezes sobre o meu mapa, e como uma carta determinista me perco pensando no que umas horinhas de nascença a mais, ou a menos, teriam feito com minha história. e essa lua em capri, e esse ascendente em sagi? fala sério estrelas.

e eu gosto de quem fala sério. mas tô mais pra meu pai mesmo. "eu sou é libriano!" ... falava a pessoa mais escorpionina que já vi. que fez aniversário esses dias. aquele que não penso muito, e que tem uma presença estranha, foi, mas não foi da minha vida.

eu tenho um jeito Matias de ser. com aspectos que eu nego, que eu imito, que eu não vejo. pessoa que me ensinou sobre desencanto como ninguém. mas eu sei que foi sem querer, às vezes a gente não sabe ser diferente, embora queira, e está tudo certo.

ele amava a gente. eu amava, amo, e essa então hoje é minha luz. 


02/11/21



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a filha do pai

um pai como o meu, um gênio como o meu.

aprendi só de olhar, tudo que não devia no meu jeito, de ser.

odeio indiretas e subentendidos. Papi era especialista. falas amargas, pessimistas, .. e dar o contra então, ai aai.. às vezes resgato alguma coisa.., eu sei bem como faz.

não gosto de levar as coisas tão a sério e mergulhar tão fundo em efeitos, defeitos, consequências. e velho Matias nossa, era um homem definitivo. certo é certo, errado é errado. 

já eu digo com muita tranquilidade quee, depende. mas levar a sério.. eu levo a sério, e fico brava com muita gente. mas já fiquei mais também. definitivo era ele, eu, bom.. eu não sou ele né.

não queria ser tão suscetível, e levemente auto-sabotadora, pra não dizer destrutiva. auto-sabotador talvez, suscetível acho que não, mas era de uma teimosia, caara, até meio burra. e se prejudicava com isso, e sofria. orgulhoso também. ótimo combo.

queria que ser importante pra alguém no mundo dos afetos, amar, ter o calor de alguém comigo, e não qualquer um e todos. um. um do avesso até, mas um, não tivesse tanto espaço de vazio no meu ser, sendo quase incapacitante lidar com essa dor, ..quando ele não existe.

Papi foi definitivo nisso. ciumento também, apegado,  tudo na moita. entrelinhas sabe. 

mas né, estava lá. acho que estar na vida sem ela, não existiu vindo dele essa possibilidade. mas vinha em ironia, ao perceber o descontentamento da minha mami em alguns momentos. gostava de "brincar" que um dia ia indenizar ela.

e, engraçado, acho que tudo na vida foi ela, para Vera Lúcia. filhos, estabilidade, tanta luta pra sobreviver, alguma mudança, ainda que aparente, .. o que não tinha, era ouvido, e vontade de sintonia. mas ..

ciúme né. não sou. mas já fui desafiada com o fato de que nunca fui ciumenta porque nunca me coloquei em uma situação franca de experimentar conviver sem a ideia de controle e posse, em uma situação em que esses sentimentos poderiam eclodir.

bom, preciso? eu preciso mesmo me desafiar só pra saber o quanto posso estender a minha maleabilidade e respeito ao instinto e vontade alheia?

não sei. 

eu levo a sério as pessoas. e acredito elas. estou falando dos íntimos certo. sendo assim, nunca experimentei ciúme, nesse clássico sentido. 

no mais..

poderia escrever muito sobre Vera Lúcia e Matias. eu não conseguia entender aqueles dois. achava muito triste.

que maaaais. ah, mencionei íntimos né. meu pai não confiava muito nas pessoas. apesar de ser adorado por seus companheiros do banco, em todas as cidades, deixando saudades, ajudar pessoas, e tal, ele não tinha amigos, não era convicto de ninguém, não falava bem, não tinha exatamente vida social para além das partidas do tal futebol, que ele amava. pode que até gostava das pessoas, mas escolhia as piadas, a ironia, o tom pejorativo, se ele gostava, estava guardado, não era disponível, era seu segredo, dentro de seu mundo interno.

aliás subentendido também era seu amor pelos filhos. por mim. pequenas coisas. pequenas pequeninas, que quando eu percebia ficava sentida, doía em mim, a dificuldade dele.  então sempre correspondia da melhor forma possível. eu ficava constrangida, e agradecida claro.

não preciso dizer que sou uma mami calorosa né. eu sei o que me fez falta.

me faz bem saber que o pai dela é parceiro é presente, amoroso. eu acho tão lindo, adorava ver os dois.

acho que a maior mensagem,  de Papi em vida é sobre o que não fazer. 

ele foi triste, amargo, azedo pra vida, vivia em dívidas pra prover, sustentar a gente, insatisfeito no afetivo, no seu ideal de filhos, que não  eram o que ele esperava em comportamento, sei lá. estava sempre cansado, ou preocupado, ou mal humorado. 

às vezes ele não estava bravo. mas a cara estava. pra mim era como um repelente. e eu confesso, lembrei agora do vácuo. ele respondia em delay, e eu faço isso às vezes, sem querer, ..

e detesto. porque quando puxava um assunto qualquer e, ou não era ouvida, ou vinha com desinteresse estudado, bons segundos depois, não me sentia uma pessoa importante, e, ou  amada não. 

poxa..

Papi não tô falando mal de você não viu. 

eu penso em você com amor.

e todas as manifestações de amor, aquelas escondidas em outros atos, ou as que não foram pra mim mas eu achava bonito, como você com seus três netinhos.., meu lado criança tinha até uma invejinha. aliás, os netos foram um tipo de redenção, né.

ou quando você no hospital já, escreveu uma carta pedindo perdão pra minha mãe. meu interior desejou uma também, que pedinte né.

também a despedida de suas irmãs tia Nana e tia Balbina, no leito já, últimos dias. mas aí é que está também...

e eu tenho muito claro. ele tinha isso, umas falsidades pra agradar sabe. e aí, o que eu prefiro? 

a rispidez sincera do homem doente a beira da morte, com franca dor. ou o melodrama familiar de despedida, contido e estudado, porém lindo?

essa prefiro não responder.







enfim.., eu não sou escorpionina.

mas aprendi com o melhor.

o que ser e não ser. aprendi a dosar minha expressão pros dois lados da moeda. em alguns casos ser mais, em outros menos. aprendi sobre amor e falta. fidelidade burra. ciúmes por posse. rebeldia sem causa. que honestidade é um patrimônio. trabalho é honra. que sorriso não se economiza, nem abraço, ou beijo. aprendi a cantar em dia de chuva. caneta ou lápis no ouvido. elástico do banco, aqueles de amarrar dinheiro que não é teu, como pulseira. roer unhas. águar plantas cantando. comer sopa com pãozinho. ... poxa, pai adorava cozinhar e eu não. humm mais saudade agora que tô indo pra lá fazer algo. coitada da Cibee.

claro que começo a lembrar manias e uma chama a outra né, ele adorava alho, e cravo. adoro mascar cravo que nem ele, e gengibre, como mami. mas mami não tá na história. a minha sagitariana mór.

astrologia me faz rir.
e eu adoro, rir.


06/11/23




quarta-feira, 27 de outubro de 2021

música do mundo

 

quando nada indicava que eu iria confraternizar tão de perto, meu irmão do nada, na adolescência, resolveu sozinho, se tornar evangélico. daqueles de terninho, bíblia, tendência a pregador, e tudo. e isso renderia muito, porque foi um descontexto na família, foi inusitado, e pra ele, uma faze importante.

ele aprendeu a tocar violão sozinho, estava carente, se recompondo de uma faze bem ruim. entrou pela porta da música. eles ofereciam aulas gratuitas, mas pra tocar no culto tinha que ser convertido, enfim, uma coisa após a outra. um dia ainda escrevo sobre a praga “Como Zaqueu”. conheci a original, que tocava em looping na saída do transporte público no centro da cidade. depois teve a versão pagode, funk, não lembro se tinha mais alguma. aquelas caixas de som bem potentes. que raiva. diária. mas enfim, quem diabos era esse Zaqueu? nunca me esqueço da aula que recebi desse personagem, de meu irmão com bíblia na mão. essa música me comove hoje em dia, teve história. acabei de lembrar, nessa época pela primeira vez estava dando aula pra crianças pequenas, sempre fugi delas. seis anos. apavorante. mas enfim, um dia fui levá-las no parque da praça, ao lado da escola e fizemos fila. no meio do caminho um aluninho puxou a música, e então todos começaram a cantar. ao mesmo tempo. fervi por dentro, aquilo parece que me perseguia, e achei a coisa mais linda do meu dia. tempos de chico mendes. mas tá.

músicas do mundo, eles abandonavam as músicas do mundo. tipo, mundanas. ele parou de tocar as músicas que gostava, seu repertório ficou muito vasto no mundo gospel, o qual sempre me mantenho bem longe no que posso, e naquela época, muito mais enfaticamente, então atritávamos bastante. uma figura. amo meu irmão.



essa música brotou na lembrança ontem, fui certeira nela nem sei porque. esse texto contém ironia. ele contém uma Bruna achando mesmo tudo muito engraçado. gosto do Moska nessa versão. é isso.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

um texto avulso


rabisco em papéis soltos, em sobras de outros cadernos, agenda nova, antiga, pra mim no whats, pra amigos, bloco de notas, arquivo de word, e-mail pra mim já fiz. onde está aquele texto, aquela senha,  aquela referência? boa pergunta.

eu amo encadernação artesanal. já fiz algumas oficinas até, é uma delícia, amaria um desvio desses, .. mas sempre me contive.

lembro sempre da Márcia, artista gaúcha que chegou no ceart para pós e  oferecia oficinas, grande maioria gratuitas, passando pra frente suas habilidades com diversos tipos de encadernação. uma generosidade muito linda, além de estimular as possibilidades do volume construído como espaço de arte em si. na época ela tinha uma pesquisa sobre livros de artista. bem interessante. fato é que ela contaminou muitos amigos. além dos cadernos dela que eram impecáveis, começaram a surgir outras pessoas confeccionando e criando marcas. sempre fui muito entusiasta, e assim comecei, entre presentes, ou os que eu comprava, os que eu fazia eventualmente, a acumular cadernos. acho que seria interessante utilizá-los, aliás, era exatamente esse o propósito.

que tipo de Bruna  eu teria que ser pra inseri-los no meu cotidiano. que tipo de texto, informação. o que é relevante, o que não é, como saber também se o que você tem a escrever, ou desenhar, vale gastar ou rabiscar um caderno tão lindo. difícil. às vezes pego algum, tento ainda. mas acho que sou isso, uma pessoa folha de papel solta e multi arquivos em todos os lugares e nenhum mesmo, e pronto. 

assim uma coleção foi se formando. e toda vez que escolhia um caderno pra usar, sentia pena, e achava que estava desperdiçando. percebi que eu não era uma moça de cadernos. eu tinha os cadernos, mas não era deles, ou eles não eram meus. mas eu queria, tinha apego, afeto, mas não acontecia. enfim. um dia me irritei e decidi acabar com a palhaçada. se eu não usava, iria me desfazer. tipo de conclusão nada típica minha, mas que resolvi colocar em prática, sei lá, pra me contrariar. fiquei aqui procurando outra razão mas não achei, a não ser porque desisti. gosto dos cadernos em branco. gosto de pessoas que escrevem e desenham em cadernos. foi por aí. 

então toda vez que precisava ou queria presentear alguém era aquela reflexão, qual partiria. um pouco doído, mas era assim, e ainda é. esses dias estava mexendo em algumas caixas e me dei com alguns deles. quero colocar aqui umas imagens, já faz tempo até, só não sei quando. muitos já foram.  uns serão da Cibe, outros ainda irão.

e uma hora vou fazer o mesmo com os livros.


segunda-feira, 11 de outubro de 2021

agora eu ri


 

*a parte mais linda de todo esse processo de fim de graduação e reflexões de mestrado. as parcerias.
as poucas e boas proposições irônicas de [As artistas] Adriana Barreto & Bruna Mansani
o trio, e todas as parcerias realizadas nas edições do espaço contramão.
eu não falo e não penso muito nisso.
mas o carinho é grande.




das profundezas da caixa d'água do arquivo alheio | parte II "passe um dia ou uma noite conosco"






 

do portfólio alheio | vidas passadas | ou, tempos de contramão

 





terça-feira, 5 de outubro de 2021

nevralgia



você é acompanhado por você onde quer que vá.
seu compêndio de experiências é acessado, involuntariamente, ou não, para o bem, e/ou não.
você pode se enganar que é dono de si, de suas reativas no mundo, eu não sei.. está tudo aí, gravitando.

mas com a posse das tendências.., 

o que você faz?