quarta-feira, 28 de setembro de 2022

eu reconheço.

 

os corações da minha cortina estão desbotados e eu estou triste.  

é verdade. a cortina já passou do tempo faz tempo, e eu tinha decidido que não era importante. e isso nem é uma metáfora.

eu a comprei muito tempo atrás para uma casa em construção otimista e feliz. essa casa não tinha portas, e de repente o meu quarto, que por acaso era nosso, ganhou um ar de graça.

o então você, não gostava muito dela.. enroscava nos ganchos de camisa, mochila, arrastava no chão atrapalhava varrer, se embolava toda e tinha que desenosar. você me irritava, a cortina não. ela está comigo até hoje, e nem existe mais esse você.

ela me acalma, ela vela, o lugar está aberto, livre passagem, no entanto, nem tanto. e tem o movimento, tudo está parado, aí ela te lembra que não.

hoje moro na casinha mais alta das casas onde moro, não é próximo da rua, não é tão visível assim, mas me incomodava a porta aberta, de cara pra rua que nem é rua, de frente pras pessoas que passam pouco, ou quase não se vê. quando  a instalei ali foi um grande alívio, um alento, um mimo, um charme, mais uma vez. além de que tínhamos historia, o que me conforta.

ela já não é mais a mesma. faz tempo.  preciso reconhecer. e tô odiando.



segunda-feira, 19 de setembro de 2022

uma flecha | paz

 

 

pra fugir de certas energias.. arame farpado, cerca elétrica, precipício, vento. ah, tem o frio congelante da Elza também, desse eu já falei.

pra fugir de certas energias.., banho de ervas! não lembrava mais. há muitos anos atrás eu amava banhos, completamente desisti deles, não é que eu desisti, eu esqueci. assim como num passado mais recente esqueci das velas. outro dia ascendi uma e foi até estranho a sensação. um pouco de saudade, um pouco de, estranheza mesmo. o fogo, o incenso, incennnso! defumador, nunca maais. e é muito bom sentir essa força, hoje pontual, e muito mais poderosa, até por isso.

pra fugir de certas energias,.. evitar os gatilhos. mas como evitar, se estão imbricadas a aspectos de valor na sua vida. deixar de lado também? não. para isso sou flecha, que muito rápido atravessa um espaço contaminado numa direção específica. tem funcionado.

e pensando neles, para fugir de certas energias,.. esquecimento, decréscimo de valor e interesse. difícil, e você só reconhece que aconteceu, quando você já esqueceu, e depoooois, lembra que esqueceu, isso dentro do tempo decorrido.  já passei por isso várias vezes com diferentes assuntos. o bom dos anos é repertório né, trás humor também, alías, rir de desgraça, sou dessas, ahh, sei lá.

tudo muito tênue, pode ser. frágil? sempre talvez, questionável, de boas também. até porque já escrevi tanto e outras coisas sobre tempo, para além dele e de tudo o que existe de sério sobre. tsc, tô nem aí.





sexta-feira, 9 de setembro de 2022

contenção | recado para 09/09 | pequeno recalque | nova ordem



contenção,  só a palavra já me dá alívio.

o balão de gás sou eu, e eu mesma seguro o fio bem enrolado no dedo .. nem balança.

não tem brincadeira, não tem viagem, não tem metafísica, não tem desculpa, não tem subjacência nem adjacência, nem subentendido imaterialidade nenhuma. 

de verdade é assim que eu nasci, e é o melhor de mim. como sou duas, das duas uma. e que uma. e que duas também, eu sei. mas como eu não nego nada. é só uma questão de ênfase. 

fui convidada por forças que eu desconheço a lidar com a luz do sol, tudo o que está visível bem diante do meu nariz. claro, nítido, objetivo e brilhante. bem simples até.

da varanda, .. ainda amo a lua cheia. quase a vejo gravada na minha testa de vez em quando. madrugadas e sonho. lindo, uma febre, e passa.



terça-feira, 6 de setembro de 2022

a vida não é filme você não entendeu | um beijo meu


mas eu entendi sim. eu entendo todo dia, cada vez mais porque veja, lido com cacos mesmo quando não tinha o que quebrar.

não tem enredo, trama que vença as horas. e elas vão passando, muito donas de si, ainda que despretensiosas. eu entrego todos os pontos, imersa no evento de viver, e nem tá importando de onde vem e para onde vai. sempre tive pouco saco para papos de  fim, continuidade, paralelos de uma existência. eu não tenho necessidade disso, vou indo, depois a gente vê. uma vez eu escrevi que não sabia que tipo de filme era minha vida. mas, que fácil tempo, a bruna de hoje não se interessa mais por eles.







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ele voltava do meu lado a caminho do terminal. ele não falava comigo nas aulas, não era meu amigo, não sentávamos perto. ele também não era bonito, não lembro o nome dele. e ele tinha bigode. e na minha idade olhando aquele menino da minha idade, de bigode... eu achava muito esquisito. eu só sei que ele voltava do IEE à caminho do terminal antigo que não existe mais, do meu lado. e isso parecia normal, quase necessário. e ele gostava de Paralamas. e eu sei disso por que  cantava suas músicas o caminho todo.

*em 1996 Zizi Possi ganha de Herbert Vianna uma música inédita, "Um beijo meu". eu não gosto de Zizi. mas ficou lindo.

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

sem mão | setembro


elas estavam morrendo. o tempo foi mudando, alguma coisa estava diferente. eu queria evitar mas não tinha condições, eu queria me preocupar, mas não tinha espaço, eu contemplava.  tive que me descolar, eu tive que ver sem ver. pós parto drenou, redirecionou energias. criei sei lá um hiperfoco.  eu não conseguia chegar. 

em 2016 um pouco antes, elas estavam esplendorosas como eu. lindas demais. estavam à espera igual a mim com aquela barriga gigante, esperavam pra conhecer sua irmã, eu gostava de pensar assim.. minha gestação foi deliciosa demais. eu não conseguia parar.

de 19 pra cá elas foram medicina. de uma forma diferente de outros tempos, um outro tipo de sustento. irmãs, filhas, fonte de insights, carinho compartilhado, aprendizado. e tinha uma beleza, preenchia, eu não conseguia parar. 

minhas plantas tem morrido. elas tem pedido, tem chamado. estão se transformando, aquele ambiente delas está com um ar, sozinho. às vezes eu tento chegar, cuidar, entregar um pouco de mim, mas não tem sido suficiente. não estou conseguindo bastar, não estou conseguindo chegar.

faz tempo que quero escrever sobre isso. até pra sair da inércia. mas admitir, entregar pontos, deixar de sentir, assimilar uma impossibilidade, descolar os sentidos, tentar ser prática e objetiva em alguns casos não tem um gosto muito bom. muitas vão voltar a terra porque não vão mais voltar. outras vão voltar para terra pra continuar. amigos tem ganho presentes.

e assim é.