Eu não sei quando a caneta bic foi inventada. Talvez na juventude dos meus pais. E deve ter
sido bárbaro! Fato é que passei eu parte de minha infância com vergonha de
usá-la, (assim como usar havaianas). Com ela em mãos, sentia-me colocada em uma ala
de pessoas super-simples, ou super-sem-pretenções, ou super-sem-graça, sem
nunca ser eu mesma, “A”, para ser aquela mais uma da caneta bic. Isso ou ser invisível dava na boa
mesma.
De vez em quando, compro canetas bic. Tudo no casual de
parecer simples. Parecer super-simples, super-despretencioso, ou até
super-sem-graça virou “febre” em um grupo seleto que, depois virou não mais tão
seleto. Então os que se sentiam mais desprivilegiados, embaraçados, rebaixados
em sua condição de usar uma bic
começaram a se revestir de um certo “conceito”, dizendo “isso não me preocupa”
ou “essa é a minha proposta”, ou então, não dizendo nada...
Ele tem uma caneta bic
azul sem tampa. Dessas que todo mundo tem, mas já bem a conheço. É ela que
passeia por suas mãos, hora útil, hora completamente inútil, até cair no chão.
Várias vezes ela cai no chão. A sua performance do “foi sem querer” e do “com
licença” para recuperá-la já é comum para mim, e para caneta bic azul.
Às vezes ela falha. Me pergunto se é a mesma, sim, porque
poderia realmente ser outra. Mas aquela bolsa murcha, e aquelas folhas soltas
já eram um indício: era sempre a mesma, e era sempre a única.
Na sala de projeções, no mais pensado dos acasos que pude
criar, viro para trás e: “me empresta uma caneta?”; era isso aí, a caneta dele.
Ele sem a caneta, e eu com a caneta dele.
Por que ele é gentil.
Por que ele é gentil.
Ela passeou na minha mão, me distraí com ela, passando-a por
todos os dedos. Ela até caiu também! E então já era hora de devolver... Não
precisei de fato usá-la. Nada do que ouvi ou vi naquele momento me trouxeram
palavras a escrever. Mas era importante usá-la antes da separação! Ao menos
marcar na agenda o dia, o momento que passei, vivi, toquei, compartilhei, algo
assim...
E foi então.
A caneta bic azul era preta na frase, “pra não dizer que não te usei”!
A caneta bic azul era preta na frase, “pra não dizer que não te usei”!
05 de maio de 2009