segunda-feira, 21 de maio de 2012

A caneta bic azul



Eu não sei quando a caneta bic foi inventada. Talvez na juventude dos meus pais. E deve ter sido bárbaro! Fato é que passei eu parte de minha infância com vergonha de usá-la, (assim como usar havaianas). Com ela em mãos, sentia-me colocada em uma ala de pessoas super-simples, ou super-sem-pretenções, ou super-sem-graça, sem nunca ser eu mesma, “A”, para ser aquela mais uma da caneta bic. Isso ou ser invisível dava na boa mesma.
De vez em quando, compro canetas bic. Tudo no casual de parecer simples. Parecer super-simples, super-despretencioso, ou até super-sem-graça virou “febre” em um grupo seleto que, depois virou não mais tão seleto. Então os que se sentiam mais desprivilegiados, embaraçados, rebaixados em sua condição de usar uma bic começaram a se revestir de um certo “conceito”, dizendo “isso não me preocupa” ou “essa é a minha proposta”, ou então, não dizendo nada...
Ele tem uma caneta bic azul sem tampa. Dessas que todo mundo tem, mas já bem a conheço. É ela que passeia por suas mãos, hora útil, hora completamente inútil, até cair no chão. Várias vezes ela cai no chão. A sua performance do “foi sem querer” e do “com licença” para recuperá-la já é comum para mim, e para caneta bic azul.
Às vezes ela falha. Me pergunto se é a mesma, sim, porque poderia realmente ser outra. Mas aquela bolsa murcha, e aquelas folhas soltas já eram um indício: era sempre a mesma, e era sempre a única.
Na sala de projeções, no mais pensado dos acasos que pude criar, viro para trás e: “me empresta uma caneta?”; era isso aí, a caneta dele. Ele sem a caneta, e eu com a caneta dele.
Por que ele é gentil.
Ela passeou na minha mão, me distraí com ela, passando-a por todos os dedos. Ela até caiu também! E então já era hora de devolver... Não precisei de fato usá-la. Nada do que ouvi ou vi naquele momento me trouxeram palavras a escrever. Mas era importante usá-la antes da separação! Ao menos marcar na agenda o dia, o momento que passei, vivi, toquei, compartilhei, algo assim...
E foi então.
A caneta bic azul era preta na frase, “pra não dizer que não te usei”!

05 de maio de 2009