domingo, 3 de maio de 2015

Ânimo

Fazia tempo sentia um silêncio.
Uma falta de vontade de escrever, ou ser de outra maneira, ..
ficar contente por algum trocadilho sem graça, ou piada interna que só fez sentido pra mim, 
coisas que a escrita me proporciona.

Ultimamente tenho me entusiasmado com algumas lembranças, 
não sei se nostalgia, até sempre tive horror de qualquer roteiro de volta ao passado, mas...

Algumas histórias parecem tão longe, e gosto de pensar que são minhas.
Deslocadas, curiosas, não exatamente longes em distância,
não estranhas como se não as refizesse, nada tão imprescindível. Vontade de escrever.







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A sala era super ensolarada. Tinha uma mesa redonda. Tão engraçado de lembrar daquela luz.

Naquela mesa a mãe sentava com a gente, comigo. Eu adorava fuçar no livro de poesias da adolescência dela. No meio as vezes tinhas cartas ou bilhetes que meu pai escrevia pra ela. Eu piraaava naquilo e ficava insistindo pra ela me contar as historias de cada coisa. Tinha hora que ela se irritava e dizia que ia começar a inventar, porque em alguns casos não tinha nada demais, além daquele vestígio de papel. 

E eu curtia a grafia antiga, e eu tentava imitar a letra deles, a assinatura do meu pai, e V de Vera da minha mãe é super engraçado. Acho que por isso às vezes penso que minha letra não tem muita identidade. Tem hora que o M é do meu pai tem hora que é o meu. O V da mami, tenho história com S's, com A's. De ir compondo e escolhendo como seria a minha grafia até não escolher nada, e cada hora sair de um jeito, o que me incomoda um pouco, mas ok.

Ahh noossa. Lembrei agora. Tava tendo ditado na sala em alguma série, talvez segundo aninho, e eu estava meio que aprendendo as letras. A professora falando, a gente escrevendo. De repente tinha que  começar uma palavra com T maiúsculo e me bateu um desespero, porque eu não sabia como era, e tinha vergonha e medo de perguntar. Lembro bem da aflição, e meio que querer olhar pros cadernos do lado, mas confusa, porque a letra que eu tinha o impulso de escrever parecia T mas J também. Até agora, pensando nisso vejo como ainda é vivo, de ter esse estranhamento na cursiva. 

Escrever à mão tá meio que em desuso né. Antes eu escrevia no papel, agora tô na rede, e na rede. Escrevendo em um não lugar, e para o nada. Amargando um atestado que esta vindo pra um monte de ficha cair, e ao mesmo tempo me deixar maais angustiada, enquanto algo que não sei bem tenta se recuperar, e a iminência de tudo que está parado se agiganta, e não se resolve sozinho. Tela azul? Tilt. Vamos de tempo, ..tempo cuida.

01/03/23