sábado, 6 de junho de 2015

!aproximações...






O “Menino do dedo verde”, sempre esteve como livro, em minha casa. Já havia recebido algumas recomendações para leitura, seja quando criança, seja depois de grande. Mas não conseguia ter vontade de ler, não me chamava.

Outro dia decidi, chegou a hora! E em função disso disso estou aqui, para fazer algumas aproximações. 

Um dia, anos atrás, zapeando pela net, dei por um evento, exibição de um filme chamado Schooling the world, cuja debatedora seria uma Ana Thomas.

Pesquisando seu nome, encontrei no YT um depoimento seu onde conta como foi sua vida escolar e explica como chegou a polêmica decisão de apoiar seu filho, quando ele pediu enfaticamente para sair dela. Em sequencia explica as decorrências desse ato para a educação e suas duas outras filhas pequeninas, além de se recusar o ser ou propor um novo modelo de nada, para além de compartilhar sua experiência. o que me agrada.

Bem, o que mais me chamou atenção no livro é o modelo de educação que os pais criaram para Tisto, o protagonista da história.

Quando o menino iniciou a escolarização, algo estranho aconteceu. O que era para ser a confirmação de sucesso e da expectativa de todo o seu entorno, dos entusiastas do berço de ouro e herança familiar, acabou por se transformar em indignação e pesadelo, quando o mesmo foi expulso da escola. Em uma carta aos pais o professor da escola comunica “Prezado Senhor, o seu filho não é como todo mundo, não é possível conservá-lo na escola”.

É que Tisto, com toda sua boa e força de vontade, não foram suficientes para reverter a resposta física de sua nova, e tão esperada rotina. Ele simplesmente não conseguia se controlar e, a despeito de suas tentativas, dia após dia, se distraia e/ou dormia...

Transcrevo o dilema dos pais.



CAPÍTULO CINCO
No qual a preocupação pesa sobre a Casa-que-Brilha e no qual
se decide, para Tistu, um novo sistema de educação
A preocupação é uma ideia triste que nos comprime a cabeça ao despertar e permanece ali o dia todo. A preocupação se serve de qualquer meio para penetrar nos quartos; ela se insinua como o vento no meio das folhas, monta a cavalo na voz dos pássaros, desliza pelos fios da campainha. Naquela manhã, em Mirapólvora, a preocupação se chamava: "Não é como todo mundo." . O sol não se decidia a levantar-se. "É bem aborrecido ter de acordar esse pobre Tistu, dizia ele. Logo que abrir os olhos, vai lembrar-se de que foi expulso da escola..." O sol pôs um abafador no seu dínamo e lançou uns raiozinhos de nada, embrulhados em bruma; o céu permaneceu cinzento em cima de Mirapólvora. Mas a preocupação dispõe de outros recursos; dá sempre um jeito de chamar a atenção. Ela se infiltrou, dessa vez, na grande sirene da fábrica. E todo mundo em casa ouviu a sirene gritar: — Não é como todo mu-un-undo! Tistu não é como todo muun-undo! Foi assim que a preocupação penetrou no quarto de Tistu. "Que será de mim?" perguntou a si próprio. E afundou a cabeça no travesseiro, mas não conseguiu adormecer de novo. Era desesperador, reconheçamos, dormir tão bem na aula e tão mal na cama! Siá Amélia, a cozinheira, resmungava sozinha, acendendo o forno: — Nosso Tistu não é como todo mundo? E quem é que prova? Tem dois braços, duas pernas... O criado Carolo, polindo raivosamente o corrimão da escada, ficava repetindo: — Tistu no ser como os otrros... Carolo, fazemos questão de declarar, tinha um leve sotaque estrangeiro. Na cavalariça, os jóqueis cochichavam: — Não é como todo mundo, um garoto desses... Você engole essa? E como os cavalos participam das preocupações dos homens, até os puros-sangue groselha pareciam nervosos, batiam com as ferraduras, davam arrancos nas rédeas. Três fios brancos apareceram de repente entre a crina da Bonita. Só o pônei Ginástico permanecia alheio a toda essa agitação e comia tranquilamente o seu feno, mostrando os seus belos dentes. Mas exceto esse pônei, que bancava o indiferente, todo mundo perguntava o que ia ser de Tistu. E os que se faziam essa pergunta com aflição maior eram, é claro, os pais do menino. Diante do espelho, o Sr. Papai passava brilhantina no cabelo, mas sem nenhuma alegria, quase automaticamente. "Eis um menino, pensava ele, que parece mais difícil de educar do que um canhão!" Rosada entre os travesseiros rosados, Dona Mamãe deixou cair uma lágrima dentro do café com leite. — Se adormece na aula, como poderá aprender? — perguntava ela ao Sr. Papai. — Talvez a distração não seja uma doença incurável — respondeu ele. — Em todo caso, é menos perigoso que a bronquite — continuou Dona Mamãe. — Mas, de qualquer modo, é preciso que Tistu se torne um homem — disse o Sr. Papai. Após esse violento diálogo, calaram-se um momento. "Que fazer? Que fazer?" pensavam os dois, cada um em seu canto. O Sr. Papai era homem de decisões rápidas e enérgicas. Dirigir uma fábrica de canhões retempera uma alma. Por outro lado, amava muito o filho. — É muito simples — declarou ele. — Achei a solução. Tistu não aprende nada na escola? Pois bem, não vai mais pisar em escola alguma! Se os livros o fazem dormir, fora com os livros! Vamos experimentar com ele um novo sistema de educação, já que não é como todo mundo! Ele aprenderá as coisas que deve saber, olhando-as com os próprios olhos. Ensinar-lhe-ão, no local, a conhecer as pedras, o jardim, os campos; explicar-lhe-ão como funciona a cidade, a fábrica, e tudo que puder ajudá-lo a tornar-se gente grande. A vida, afinal, é a melhor escola que existe. Vamos ver o resultado! Dona Mamãe aprovou com entusiasmo a decisão do Sr. Papai. Quase lamentou não possuir outros filhos nos quais pudessem aplicar um sistema educativo tão sedutor. Para Tistu, adeus empadinhas comidas às pressas, pasta a carregar nas costas, carteira onde a cabeça tombava sozinha e punhados de zero a escorrerem do bolso! Começava uma vida nova. E o sol se pôs de novo a brilhar.

Bem..., sua primeira aula no dia seguinte foi de jardim com o jardineiro Bigode =]... E se alguém aí cometeu a gafe de também ignorar este livro, fica aqui este, à seguir cenas...

Eu não sou o Tisto, ou seus pais, nem o filho da Ana, ou sua mãe. Apesar de que em !devires.., link de postagem anterior, relato também uma iniciativa semelhante de "desajuste".

Cada pessoa com sua história, e certamente, inclusive, sou protagonista de uma que, depois de muitos antagonismos me leva novamente ao ambiente cotidiano escolar. Agora como prof. de Artes Visuais para pequenos.

Enfim.., apesar de achar que termino minhas postagens quando deveria começar, vou me abster de análises. 

Por hora, apenas contar, compartilhar, relacionar, aproximar historias...











*gennte, quanto tempo esse filme. quanto tempo não vejo um filme. uma falta de paciência sem fim. 

** e aí né, falando nisso. Cibe ama escola quando eu já detestava. ela ama, sente saudades dos amiguinhos, profs., se integra muito bem nessas rotinas. será que eu tenho algum probles desses que poderiam ser diagnosticados? uma amiga acabou de se descobrir autista, já adulta, interessante. mas sempre tive problemas com gente. e aquele fervo de crianças, e aquele fervo no recreio. e todas aquelas coisas que eu também queria e não conseguia fazer, porque vivia presa por dentro, né. aí as vezes ia, maioria das vezes não. mas era difícil. bemm difícil. 
como você vai defender a a legalização no Brasil do ensino residencial? vou colocar bem assim mesmo, as forças do mal são muito mais potentes transitando nesse âmbito, enquanto as que eu admiro conseguem inclusive tecer parcerias com o ensino regular, então. que medo dessas leis. 

faz muito tempo que não acompanho as iniciativas da Ana, a ultima vez ela estava envolvida num projeto dentro da escola, na localidade onde morava. mulher admirável.

*** eu como prof. de escola pública, bom, eu como prof., eu inserida no ambiente escolar.., já acho graça né. é engraçaaado, que só. mas tento muito me aproximar das crianças, tento ter cuidado, muito cuidado com as palavras, especialmente para além do conteúdo. e tento sempre trazer algo positivo nas trocas. isso só porque eu sei que um sorriso, um olhar, uma frase, uma palavra, ou um silencio, podem fazer muita diferença. pra mim fez. na minha experiência.. tudo relacionado a escola foi angustiante. tô adorando perceber minha filha. meu trabalho também me ensina muito.

22-07-22




tenho um crush num Ome, e ele bem que quer ser dedo verde. cansou acho, de  ter uns dedo bit, outros byte.

ele quer reinventar uma roda, tirando o aro da terra, e criando uma família de mato, talvez, só pra contrariar.

eu gosto dele. eu admiro, eu queria um dia ele perto de mim. mas eu descobri que eu gosto dele, .. como qual será a comparação, qual a imagem? 

eu não quero lhe fazer mal, então não posso ser fungo, ou alguma peste, embora eles pudessem estar pertinho. largarta não também, não tão voraz a ponto de te acabar. será que vizinha de folhas, vizinha de raíz? 

eu gosto dele, e meu Ome, se perde no universo das plantas. e eu, ahh eu uma moitinha ali, ó. só de olho. nem tenho valor na prateleira da vida. passo batido, mas estou perto.

ele caminha, me rebroto no seu rastro como quem não quer nada. fazer o que, você exala  desprende o adubo do melhor.. qualquer dia renasço numa reentrância de você.

e se a gente formasse um líquen? ouvi um vez, uma prof colocando esta aproximação como uma paixão, uma troca, um conjunto de favorecimentos. será? não sei, poderia, acho.

ele observa a terra, olha seus pés, não tem raízes, olha as mãos, humm, nada de verde, nem unha, nem dedo. 

ele planta, mas não se planta. é bom. alguém precisa caminhar.


23-11-23