domingo, 11 de abril de 2021

quando você tem que ir, quando elas precisam ficar | mudança II

você põe a semente na terra, a planta é sua?
há um tempo atrás fiz um texto sobre mudança que começava assim.

tem gente que tem lugar, precisa partir, e sofre com o que vai deixar.
tem gente que quer favorecer o que tem, e colocar as raízes na terra, mas se ressente porque sabe também, que um dia partirá.

tenho algumas plantas cansadas de vaso que quando eu penso em por no chão sinto essa melancolia, pena dessa despedida.

estou escrevendo isso porque estou prestes. e ao escrever sobre esse apego, eu me lembro daquela bruxa que pegou Rapunzel bebê de sua família, porque o pai dela roubou batatas de seu rico quintal para a sopa de sua esposa grávida (versão que a minha mãe contava). ou então aquele pai que se deu mal, perdeu sua filha Bela, que pediu uma rosa vermelha como presente de sua viagem, e ele só a encontrou no jardim de um homem muito severo e cruel. é cada história, infantil ainda, fala sério, mas... apego. pensando nisso, muito me admirei quando conhecemos na vida real, eu e Cibe, uma Fera da Bela, um homem fascinado por suas amoras. mas aí é outra história.

bom, eu não sou bruxa má, nem fera enfeitiçada, imperadores de suas plantas. e adoro tanto roubar mudas, quanto pedir, gosto de oferecer também, é assim que as boas histórias se formam, assim se aprende também, assim que você acessa esse fio de experiência vivida que as vezes extrapola o que é certo e errado quando se trata de plantar, ou se relacionar com a terra. e se é bom, ou ruim, é certeiro, você logo descobre. e segue no que convém ou não, construindo seu próprio caminho, enfim. com relação às plantas me ligo nessa história construída na convivência, na proximidade, nesse desenvolvimento mútuo e paralelo desses mundos, que extrapolam a questão do "uso", por assim dizer. é disso que falo, mais ou menos.

então.., estou prestes. vou entregar, vou deixar, e que esse soltar provoque as transformações necessárias, que tudo floresça, cresça, como nunca. que nosso jardim prospere sem a gente, já que em algum momento não estaremos mais no mesmo recorte de terra. mas estaremos no mesmo mundo. então tudo certo.