quinta-feira, 1 de setembro de 2022

sem mão | setembro


elas estavam morrendo. o tempo foi mudando, alguma coisa estava diferente. eu queria evitar mas não tinha condições, eu queria me preocupar, mas não tinha espaço, eu contemplava.  tive que me descolar, eu tive que ver sem ver. pós parto drenou, redirecionou energias. criei sei lá um hiperfoco.  eu não conseguia chegar. 

em 2016 um pouco antes, elas estavam esplendorosas como eu. lindas demais. estavam à espera igual a mim com aquela barriga gigante, esperavam pra conhecer sua irmã, eu gostava de pensar assim.. minha gestação foi deliciosa demais. eu não conseguia parar.

de 19 pra cá elas foram medicina. de uma forma diferente de outros tempos, um outro tipo de sustento. irmãs, filhas, fonte de insights, carinho compartilhado, aprendizado. e tinha uma beleza, preenchia, eu não conseguia parar. 

minhas plantas tem morrido. elas tem pedido, tem chamado. estão se transformando, aquele ambiente delas está com um ar, sozinho. às vezes eu tento chegar, cuidar, entregar um pouco de mim, mas não tem sido suficiente. não estou conseguindo bastar, não estou conseguindo chegar.

faz tempo que quero escrever sobre isso. até pra sair da inércia. mas admitir, entregar pontos, deixar de sentir, assimilar uma impossibilidade, descolar os sentidos, tentar ser prática e objetiva em alguns casos não tem um gosto muito bom. muitas vão voltar a terra porque não vão mais voltar. outras vão voltar para terra pra continuar. amigos tem ganho presentes.

e assim é.