quarta-feira, 28 de setembro de 2022

eu reconheço.

 

os corações da minha cortina estão desbotados e eu estou triste.  

é verdade. a cortina já passou do tempo faz tempo, e eu tinha decidido que não era importante. e isso nem é uma metáfora.

eu a comprei muito tempo atrás para uma casa em construção otimista e feliz. essa casa não tinha portas, e de repente o meu quarto, que por acaso era nosso, ganhou um ar de graça.

o então você, não gostava muito dela.. enroscava nos ganchos de camisa, mochila, arrastava no chão atrapalhava varrer, se embolava toda e tinha que desenosar. você me irritava, a cortina não. ela está comigo até hoje, e nem existe mais esse você.

ela me acalma, ela vela, o lugar está aberto, livre passagem, no entanto, nem tanto. e tem o movimento, tudo está parado, aí ela te lembra que não.

hoje moro na casinha mais alta das casas onde moro, não é próximo da rua, não é tão visível assim, mas me incomodava a porta aberta, de cara pra rua que nem é rua, de frente pras pessoas que passam pouco, ou quase não se vê. quando  a instalei ali foi um grande alívio, um alento, um mimo, um charme, mais uma vez. além de que tínhamos historia, o que me conforta.

ela já não é mais a mesma. faz tempo.  preciso reconhecer. e tô odiando.