no início do isolamento eu já estava vindo de um tempo bem intenso de convivência com minha filha. mas assim que o ensino remoto foi instaurado, surgiu urgência em fixar uma rotina, fazer principalmente, com que Cibe compreendesse que em alguns momentos ela não tinha protagonismo, e precisava colaborar. aí a parada ficou tensa.
difícil. muito desgaste. culpa. não sabia que maternidade e culpa andavam tão juntas. é uma dor que me atravessa de forma muito profunda, sei lá, uma sensação de insuficiência. e nesse 2020 então? com essas crianças em casa..
os meus dias não tiveram, e ainda não tem 12h. posso triplicar a sensação desse tempo. dá uns descontextos interessantes você perceber algo como muito distante e depois se dar conta de que foi no dia anterior, ou anterior a ele apenas. um pouco angustiante para quem quer a distância que o tempo favorece.
esse limbo me deu certa tranquilidade pra escrever novamente aqui. esse tempo estendido. não sei se tranquilidade é a palavra certa. talvez esse espaço tenha se tornado uma vitrine de percepções e sensações, meio que sempre foi né, mas muito principalmente um escape. um, dentre outros projetos meio hesitantes e sem muita continuidade ou propósito, até ter. coisas de 2020, tudo certo.
mas então.., o que eu tenho em textos, Cibe tem em desenhos. nas minhas reuniões, ou momentos em que precisava dividi-la com trabalho, sem opções, passei a montar espaços de desenho do meu lado. numa das mudanças de casa, lembro de ter guardado váarios. agora também, muitos outros. algumas pinturas.
os assuntos vão mudando. tinha muito peter pan nos do início. e muitos mesmo com o pai, que ela ficou afastada por bastante tempo em função da pandemia. e agora é o avatar e sua turma que vem tomando conta sem cessar, mesmo já não assistindo mais os desenhos. foi assim também com o peter pan, aliás.
a parte que eu mais gosto desse processo é a descrição, as histórias que surgem a partir da folha. o desenho é vivo, as histórias mudam, no dia seguinte já pode ser outra, tão detalhada quanto a anterior, pro mesmo desenho. essa parte lúdica, desse desenhar que brinca, que conta e reconta de maneiras diversas, desdobrando o traço, é o meu encanto com essa faze do desenho infantil.
minhas salas de aula de vez em quando (quase sempre) viravam a b a g u n ç a g e r a l l quando resolvia, com os do primeiro aninho, anotar, botar legenda no desenho deles. adoro. e eles ficam muito felizes de serem ouvidos, e de saber também que sua história está registrada junto a seu desenho. saudades.
ontem eu virei água em vários desenhos em cima da mesa.. que saco. só de raiva, segue abaixo as legendas dos perdidos. deixa que e no futuro a mente age né, nessa lacuna entre texto e referente.
eu tenho uma reunião, e você trabalha, e você tá de óculos.