segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

imagem e infância

 CANÇÃO


Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

Cecília Meireles (1901-1964), Viagem, Lisboa, 1939





me ouça
com seus ouvidos atemporais
a bruna menina tinha forte impressão ao ler cecília meireles nesse texto, assim que  pode, no caderno antigo de sua mãe também menina. 
ouve de novo, quando viu gravada nos livros escolares um pouco maior.
e agora de novo, sussurrando essas linhas em pensamento, vez por outra, quando se lembra que não gosta de poesia.

______



a Bruna  de hoje vê e ouve essa poesia...

a Bruna de hoje sabe que ama esse texto, e  o aceita do jeito que é.

ela também sabe que sonho é fumaça, desejo é um grão de areia, que dor é uma aliada, te deixa realmente mais forte, ou resignada, os dois ou um, parece bom

Bruna bate cabeça pra tudo que é maior que ela, até a dor. pensa sempre em possibilidades, planos B, C , ou plano de não ter plano, nada é único, nem definitivo nessa vida..

ahh essa Bruna. ela vai com a onda, sem resistência e isso não é fluidez, sapiência,  nada de bonito tão só, .. é como as coisas são, simples assim. 

e um viva à sobrevivência.


25/04/24