quarta-feira, 14 de junho de 2023

tem algo ali que eu amei, só não entendi

 

tem gente que fala coisas que eu não entendo mas adoro. poderia ouvir milhões de vezes como aquelas musicas em idioma que não sei, e que só posso supor, seja por uma palavra ou expressão que soe semelhante, algum caminho para hipóteses.

mas no caso, estou aqui com o meu livro roubado  que eu amo sem ter lido, cujos fragmentos de aberturas aleatórias não me fazem desapegar, meu estado dispersivo angustiado não permite desfrutar, .. levando então seu peso a todo lugar. 

sigo com ele numa sina, ou como quem tenta sugar de sua estrutura, pelo toque, até pela contemplação, algo de sua essência. parece que fico mais inteligente, ou mais perto de algo bom de mim estando com ele.


você iria gostar desse livro eu disse. não li, mas tem muito haver com você também.

pegou o livro, abriu aleatóriamente e leu um parágrafo em voz alta. fizemos um silêncio. eu não disse? 

pediu para fotografar a página. disse que queria ler de novo. e eu também fiquei com aquilo na cabeça, até por isso estou aqui hoje, com o livro no meu colo, divagando sem reler o parágrafo, e sem voltar lá pras minhas primeiras páginas, exaltando uma impressão.

eu posso mudar de ideia, não é difícil. mas por enquanto é isso, não conheço e adoro, estamos juntos há tempos, caminhamos pra lá e pra cá, nos acostumamos, nos entendemos. 

é certo que vamos nos estranhar, como agora mesmo em que ele estava mencionando uns teóricos ali com uns papos que teria que me esforçar muito pra abarcar em completude, deu até soninho. mas táa né, ninguém é perfeito. 

eu sei que todo livro quer ser lido né não, e eu tenho toda essa vontade em potencia. ..

ao menos simpatizamos um com o outro. 

bom começo, mas muito sono. 

coisas de amanhã, talvez. 




A razão é uma flor: poderíamos expressar essa equivalência dizendo que tudo o que é racional é sexual e tudo o que é sexual é racional. A racionalidade é uma questão de formas, mas a forma é sempre o resultado da agitação de uma mistura que produz uma variação, uma mudança. Inversamente, a sexualidade não é mais a esfera mórbida do infrarracional, o lugar dos afetos turvos e nebulosos. É a estrutura e o conjunto dos encontros com o mundo que permitem a cada coisa se deixar tocar por outra, progredir em sua evolução, se reinventar, tornar-se outra no campo da semelhança. ... p.106