terça-feira, 14 de março de 2023

sinais | auto-crítica

 


quanto mais eu remendo meu cortinado mais furo aparece. cada vez remendo de maneira diferente, mais aparente, com menos paciência e preciosismo do que seria de meu temperamento no passado, mais esquisito está ficando, mais eu gosto. outro dia quase usei uma linha diferente de branco, ia ser um escracho.  sinto que essa hora ainda vai chegar. contrariando o gênero, a estética, o gosto, em algo que ninguém se importa, não altera nem define o giro do mundo. nem o meu.

cheio de marcas. cheio de sinais. cicatrizes. poxa, meu corpo é bem assim. várias dá pra ver e várias não. nenhuma é colorida, desenhada, decorativa. nenhuma foi auto infligida para marcar ou comunicar algo a alguém. nenhuma é bonitinha, séria, ou banal. são acasos de dor mesmo, acidentes, o tempo. e se não é um é outro, de forma diferente, vai formando um novo tecido sobre a carne. um novo-velho. diferente. 

não se engane, sempre quis eu também provocar dor, fazer desenhinhos decorativos, e/ou significativos. um lado meu se afiniza muito com a liberdade de ser e transformar algo tão transitório e cada dia mais perto de apodrecer. afinal, marca a pele o quanto quiser, mas não marca sua essência, então..

mas um outro lado não convive com o arrependimento.  então prefiro lamentar o que não controlo, do que lidar com o que provoquei.