domingo, 26 de março de 2023

um pouco Muttley | o lado trickster



era acusada de sempre querer ganhar nos jogos de tabuleiro, no dominó, qualquer brincadeira. 

quando era pega, às vezes ficava de castigo sem jogar olhando, .. que injustiça, não gostava nada, nada. cuidado com a Bruna, ela é Dick Vigarista, o personagem do desenho. eu ficava brava, e ao mesmo tempo achava a maior graça. eu queria ganhar.

eu chegava pro Silvio com a mão fechada e falava agora é meu, e saia correndo, e ele corria atrás de mim, e eu corria muito mesmo, pra salvar minha vida, corria corria, ele me pegava. às vezes levava uns tapas e chorava, ele furioso, maior que eu, e não gostava que eu pegasse nada dele. mão muito fechada e ele forçava abrir, eu chorava, tava me machucando, e.. e lá no fim quando não aguentava mais abria a mão, estava vazia. eu venci. chorava e ria ao mesmo tempo.  muito divertido.

era acusada de trocar o copo de cerveja, meu vazio, pelo cheio da geral, que falácia, absurdo. trocava e gerava aquele descontexto, aquela coisa estranha de ué, algo aconteceu, que estranho. negava até a morte, observava a situação, ria por dentro. divertido.

mas nunca vi graça nenhuma em jogo de cartas. reuniões e interações desse tipo passo longe desde sempre.  hoje em dia ainda não vejo graça, talvez algo apareça, em função da Cibe. mas não sou chegada.

um dia resolvi que queria escrever com a mão esquerda, fiquei um tempão treinando cursiva. que difícil. ainda fico contrariada de não conseguir muito. 

fiquei feliz quando consegui confundir meu pai com a assinatura dele. eu amava a letra dele. a letra da minha mãe peguei o balanço, me intrigava o V dela, mas nunca ficou aquilo tudo. agora, já contei isso, papi disse que me deixou sua assinatura  de herança, que honra. mas hoje em dia não sei mais fazer. 

histórias bobas de uma vida que acabou.

parece que as surpresas, a graça das coisas por acontecer de uma vida que começa e que tudo é surpresa, novidade, ambição. vida leve né, não é mais leve.

agora eu trabalho no resgate sim, de alguns amores, ressignificar algumas importâncias em meio a muitas que não tem graça.

abrir meu coração e me encantar de novo. 

ano passado quando desisti das minhas plantas, pra chegar a mencionar, algo se partiu muito forte, e se intensificou até chegar ao que estou agora. 

afora o drama, e um viés bodejante de uma Bruna que só  reclama, preciso parar de desaturar minhas fotos, meu presente, meu futuro no presente que construo a passos pesados de má vontade, sem me aguentar muito e com dificuldade de me fazer importante ou interessante pra ser digna de nota em alguma passagem da contemporâneidade  dos meus trânsitos. é louco né, quem vê de fora concerta nossa vida tão fácil. 

mas é bom ouvir também, sempre tem algo que a gente não está vendo, tenho levado uns saculejos.


continua.