sábado, 6 de abril de 2024

eu não gosto de poesia

 

Ismália


Quando Ismália enlouqueceu,

Pôs-se na torre a sonhar...

Viu uma lua no céu,

Viu outra lua no mar.


No sonho em que se perdeu,

Banhou-se toda em luar...

Queria subir ao céu,

Queria descer ao mar...


E, no desvario seu,

Na torre pôs-se a cantar...

Estava perto do céu,

Estava longe do mar...


E como um anjo pendeu

As asas para voar...

Queria a lua do céu,

Queria a lua do mar...


As asas que Deus lhe deu

Ruflaram de par em par...

Sua alma subiu ao céu,

Seu corpo desceu ao mar...



o meu encontro com a Ismália na infância, nos livros de escola, no caderno de poesias da minha mãe, não é o mesmo que eu faço agora, a Bruna velha. 

hoje tenho outros olhos, e apesar do fastio com rimas e textos milimétricos, bonitos demais para mim...

acordei com ela, e, nem lembrava mais de que Ismália se tratava.., ela era um borro com nome, e chamado.

fiquei tão admirada, quanto escrever Bruna velha.

é meu fim dos tempos mesmo. mas estou rindo, então tá bom.


acordei pensando nela.. e de uma noite muito emblemática pra mim, estou mesmo, em transição.

fazer algo por saber que é certo, é o certo. mesmo quando você não sente. 

como construir novos interesses. saber que uma etapa venceu, procurar o caminho não trilhado, o que vem primeiro, o desafio, ou o deleite?

e o apego aos seus castelos poxa, eram gigantes, a área prontinha alí, cada hora se agregava algum aspecto de sonho, de agora vai, ..  toda uma fabulação.. que é preciso ter muita força pra se convencer, pra te dissuadir.

cada caso e coisa, pra seu caso e coisa né, mas.., é como admitir, ou ceder que precisa de ajuda psiquiátrica e psicológica por exemplo, experiência muito forte pra mim no ano passado, ouvir que precisa é uma coisa, ir de fato e se entregar pra algo que se tem dúvidas, que difícil.

algo de inadequação muito grande.

eu recebi Cibe nos braços pela primeira vez e eu fiz t u d o o que eu precisava fazer, mas eu não sentia, uma empatia profunda pelas dores e marcos dela. nem muita explosão de sentimentos.., maior amor da vida, imprinting, sei lá, o que o mulheril às vezes me entedia falando.

eu estava muito certa da escolha que fiz, e buscava ser boa naquilo, cautelosa, atenta, pisando devagar. 

foram cinco dias no hospital com Cibe se recuperando. primeiro, banho, primeira roupa, primeira visita, colo, babada, mijada, cagada, nem aí, .. estava fria. eu queria mais é saber do meu leite, entender como pegar, adaptar meus olhos pra uma criança que nasceu toda enrugada, gigante e magrinha, quando nada, nenhum exame indicou que ela pudesse estar em algum sofrimento. .. e aí toda a checagem que tinha que ser feita da glicose no pé, por exemplo, era um dever, não importava o que era dor pra Cibaby, ou sentimento de dor, ou receber dor sem nem entender o que é, ser vulnerável a mercê das mãos de outros eu estava atenta, mas fria, o dor dela pro que era dever não tinha espaço, eu não tinha capacidade de fazer essa cruza simultânea naquele momento.

a explosão de amor simbiótico veio depois, e quando veio, foi uma cachoeira de sentimentos.  eles já estavam ali, mas de repente me dei conta do quanto eu estava desconectada. estava preocupada demais, e imerça na mecânica, com o que eu deveria fazer, e não estava sentindo esse viver real.

não foi um erro, é o meu jeito, por isso eu me respeito e faço mesmo, quando eu sinto que tem que fazer, eu vou, eu e o meu gênio se cutucando,.. umas horas a gente se une, noutras as forças se anulam, e são sempre momentos, sei lá, emblemáticos.

ontem fui cambonar Pai João, entidade Preto Velho de um amigo querido, que me levou a esse centro até. 

a recomendação era prestar atenção no atendimento. a gente já esta atento para servir, trazer as velas, ervas, anotar, mas eu pelo menos ao ser atendida nunca gostei de outra pessoa colada, detestava na verdade. e na posição de ouvinte atenta, fiquei em contradição interna.., mas eu entendi o propósito. não gosto, mas entendo.

foram dois atendimentos longos. o primeiro foi difícil pra mim, o segundo já consegui mais. pedi internamente pra Pai João, pedi pra minha guia, a minha Vó, apaguei o contexto, tentei a essencia.

existe uma diferença muito grande entre dizer palavras, e interagir com elas em verdade, quando o que vem agregado ao verbo é alem,.. numa cósmica que se forma.

a fala  é sempre muito simples, e o que me ressaltou a princípio, foi a diferença entre ser atendido, e acompanhar um atendimento. 

ouvir as dores pungentes, perceber em detalhes a força de um benzimento, a limpeza, a força magnética desse envolvimento que acontece em dois planos. ..

eu já estive próxima de outros atendimentos. já cambonei outras entidades, mas dessa vez foi diferente por que eu senti a dor que veio. vi chegar a dor, o pedido, esse momento seminal em que você chega de um dia longo, trabalho, vida, acompanha tooodo um cerimonial para ser atendido, numa sexta feira ainda, é sempre assim.

aí é acolhido com palavras comuns, as mais simples, amor, perdão, resignação... que um lado meu, o pior, já diz.. ai que saaco, não preciso enganar que eu tenho isso, né. 

mas desde o meu primeiro atendimento com vó Sabina, há muitos anos atrás, derreteu, ela derreteu em palavras embebidas de muita vibração de amor. é lindo. e desde então sempre sinto em diferentes nuances, em cada entidade que conheço.

e eu que tenho o auto-foco nas minhas dores, e mesmo contribuindo no centro exatamente com esse propósito mesmo, de ajudar, estou preocupada. 

..em aprender, fazer direito, ser atendida porque não, quero me curar, atenta ao desenvolvimento, aprender a me conectar e conhecer meus guias, estreitar os laços, fortalecer esse caminho estelar,  .. oferecer meu corpo, anular meu ego, e entregar minha essência pra outra essência, enfim, me entrosar com os irmãos da casa, tentar Me s e n t i r da casa, isso também é um processo. ..

ontem foi diferente por essa conexão com o atendimento numa perspectiva diferente, observando a entidade interagindo com um desconhecido da assistência,  .. e sentindo, ..é muito mais do que a gente vê.


fazer algo por saber que é certo,  como cumprir tarefas, honrar valores e compromissos, verbalizar posicionamentos e colocá-los em prática, mesmo quando você se contraria, ou não sente. é um exercício.

fazer algo por sentir o caminho, abrir seus sentidos pra reciprocidade da vida,  se uma porta não abre, agradecer e louvar a possibilidade de explorar outras, voar como o vento em espaços outros, pessoas, corpos, histórias, é divino, é sábio. preciso ser mais assim. acréscimo de exercício.

deixar cair minha rigidez, ouvir mais com o meu coração, cruzar com a razão, ouvir e aprender com os Pretos Velhos seria bom.

sigo.