terça-feira, 9 de maio de 2023

a gente faz amorrr por telepatia..

 


uma cena com essa música on, Ritinha com um ator carioca com sotaque carióaca, que parece que sempre fazia o mesmo papel? não lembro o nome dele nem da novela, mas ela foi muito legal na participação especial que fez como mãe de um dos mil filhos desse pai na trama. 

queria ser mais cult pra mencionar essa mulher. mas essa é uma das primeiras lembranças que tenho de sua figura, para além das músicas que cantarolavam e eventualmente tocava em casa, de sua relevância na história da música brasileira, e seu papel, atitude, como figura pública feminina.

se meu pai tivesse vivo teria ficado bem triste, e iria se emocionar com as váarias homenagens que vai chover na TV aberta, redes sociais e tudo. mas aí ele foi primeiro.

ao menos fico feliz que ele morreu um pouco antes do 7x1. aquela copa que era pra ele estar feliz porque era aqui e tal, mas que ele não via muita graça, pois estava entre UTI e leito, e com dor, preso em hospital, aquela coisa. 

papi era louco por futebol, o mesmo tanto que ele gostava, hoje tenho horror, não só por lembrar dele, mas por nunca ter gostado mesmo, e sentir que talvez o jogo fosse mais importante que eu, aquelas lógicas meio tortas que a gente arruma enquanto cresce.

a Ritinha morreu e eu lembro dele. e eu lembro como é perder alguém. do quanto a gente tem que fazer uma força pra trocar a falta pelas memórias doces, as de dor, mágoa, não fazem sentido frente a tanta impossibilidade.

eu tinha muita encrenca com a secura do meu velho, me revoltei, e por muitas vezes quis devolver a secura igual, com rancor desde pequena. minha mãe teve um papel importante, assoprou a ferida, mostrou outros aspectos, falou muito sobre as pessoas darem o que podem, da dificuldade de fazer diferente. no mínimo com tantas falas, ela deixou meu coração mais leve. desde pequena estava certa que ele não gostava de nós, de mim, porque a gente não era o que ele queria.

no futuro, ao perceber nele pequenas mudanças, tentativas de aproximação puxando assuntos de jornal, esticando conversas, me mandando foto de rosas do quintal, até me fazendo algumas mudas, meu coração doía, eu percebia, do jeito dele estava tentando. eu reconhecia e retribuía o esforço sempre. 

eu fiquei ao seu lado tudo que pude, sempre, todo tempo, até o último suspiro. e não tinha mais ressentimentos, dores do passado, grandes dramas, só tinha o presente, curtir mais um pouquinho, aliviar o mal estar, apoiar, aguentar sua dor manifesta por vezes em rispidez, por mais que ele tentasse ao máximo se conter, sem querer demonstrar sofrimento.

eu nem queria escrever. mas hoje veio isso. morte de quem a gente gosta, história que fica, qual história e gente escolhe pra ficar. amor.