quinta-feira, 11 de maio de 2023

 







rascunho do tempo do êpa. sim. eu já morei num prédio. em alguns por aqui. no Paraná sempre foi casa, nossa como eu era animada com essa coisa de apartamento, pfff.

hoje em dia tenho horror de pensar, estar com a Cibe num apartamento, socorro mil vezes. mas não descarto a possibilidade quando sair daqui, e se é verdade que meio que historicamente eu não dou valor ao presente, nesse aspecto sou tão agradecida por essa casa ter surgido. adoro estar enfiada aqui, Cibe cresce com quintal, estamos seguras, na região  que eu queria na época, tudo certo, amo.

eu comecei a graduação em 2000 morando no alto da Ivo Silveira, num conjunto de prédios que ficava exatamente na frente do cemitério que agora não sei o nome. nunca soube acho. e eu morava pertinho do La Maison!, tá, eu não usava nem o cemitério nem a casa como referência, funcionaria, os dois eram bem conhecidos, mas acho que era o INSS, talvez, não lembro. ah, perto da concessionária Ponto 1, mudou de nome várias vezes, não sei o que é mais, e alí tem várias, né.

andava muito de bicicleta alí. teve umas vezes que fui de bicicleta pra UDESC, sério, até o  centro era dez minutos dali, uma delícia, apesar de que passar embaixo da ponte sempre era sinistro, e mais pro fim do dia mesmo, inviável.

segundo andar.  terceiro piso, no quarto tinha a mulher de salto pela casa em horas impróprias que quase deixou minha mami louca. o nosso era o último bloco, longe da geral, bom pelo barulho, . e meu quarto era o único de frente pro cemitério. o que posso dizerr.., amava. 

da vista, incomodava um pouco o cimento, as flores de plástico, e eu achava aquele lugar sem sombra, os que são arborizados são gentis, aquele ali fritava. bom, se forçasse a vista conseguia ler lápides até, que loucura isso. estava à vontade, não me sentia observada, podia ficar sem roupa à vontade, era um perto meio longe também, então, não tinha problema com esses vizinhos. maior paz, sem ironia. a coisa de ficar pelada não sei, as vezes tinha as muvucas de sepultamento, aí era bom cuidar. fato é, eu não tinha relação nenhuma com a morte, meus avós eram vivos ainda, menos vô Silvio, que morreu quando mami tinha uns doze anos, e mesmo com essas mortes depois, eu só fui entender mesmo essa intensidade quando passei por ela. e por mais tranquila que estivesse, e estava, é uma experiência muito forte.

eu acredito que, por muitas razões, não apenas por essa, hoje não conseguiria mais morar ali e curtir, . porque eu era meio cética também, via tudo com naturalidade. tá era super medrosa com os famosos filmes de espírito, né, que a gente falava. mas eu não tinha abertura nenhuma para nada do mundo mais sensível, então acredito que não seria igual antes não, energeticamente falando, não daria certo. minhas amigas morriam de medo, diziam que nunca iriam dormir na minha casa, e eu ria, não trocaria essa vista por muitas outras aí, do gênero vistas de apartamento em lugar de muito prédio.

e esse papelito da imagem acima, perdido entre tantos outros, caí neles e tô me segurando pra não jogar tudo fora, aliás. bom, gostava de admirar a  paisagem para além do cemitério, claro, mas ele é referente a uma experiência de observar uma mulher sozinha, parada muuito muito tempo em frente a uma lápide. ela estava mais pra baixo perto do muro então mais próxima de mim que o normal. depois de um tempo, estava protagonizando a minha vista, e senti uma tristeza. não gostei. mas essa sensação me pegou apenas uma vez.

meu pai foi enterrado na enseada de brito, num lugar que me agradou um pouco. mas quando tamparam, não pude evitar uma sensação de sufocamento. nunca mais voltei lá. sinto um pouco de culpa mas, ir "ver" meu pai alí, é encontrar o corpo de um homem que teve uma vida difícil, seu corpo refletiu isso, não é essa parte que quero encontrar. 

ele está super acessível. sua parte que ascendeu, a parte que me amou e que eu amo na essência de tudo, não está lá, mora em mim. acho que então sim, hoje em dia cemitério virou cemitério de verdade, no pleno significado. lugar que te remete a lembranças que, por mais que sejam boas, pra mim ao menos, carregam melancolia.