sexta-feira, 26 de maio de 2023

decorrência | gralhar na escrita | os símbolos | aleatórios significativos | costura | arqueologia de bugigangas

 

eu gostava de desenhar.

mas era mais um passa tempo, como ler.

e eu li muito na adolescência, literatura estrangeira, brasileira, nada excepcional, mas o que me incomoda como característica minha, não lembro de nada. inveja do Sílvio, era bem inteligente, se comunicava bem, era muito gostado, com muitos amigos, e volta e meia, soltava uma citação de algum livro que leu só faltava dar a página, o parágrafo.., eu queria.

a primeira escola que eu estudei quando cheguei aqui foi  Instituto Estadual de Educação, já escrevi um pouco até, das dificuldades de lá. 

um dia teve um concurso de desenho, não faço a mínima idéia pro que, eu não ganhei, e tiveram só dois inscritos, ou dois da nossa sala, mas foram bem poucos.

a proposta era combinar os arcos da arquitetura, com a gralha azul.

o meu não servia pro fim que eles queriam, tinha muito detalhe, difícil pra uma logo, mas não lembro bem o que era, sei que eu ganhei um livro de anatomia de animais, fui algo como segundo. na verdade foram muito poucos que tiveram a iniciativa de participar, aí quiseram me agradar.

eu não conhecia nada desse pássaro, nunca fiz conexão direta com Pinheiros naquela época, e não era tão simples pesquisar, não sei como isso se deu.

tenho confraternizado muito com as gralhas azuis, elas adoram fazer convenções aqui pelo condomínio, e eu amo ouvir. o som dos pássaros, hipnótico. passarinhos na mangueira no final do dia, no abacateiro, essa balada animada, incrível. mas aí já é de outra casa e cidade.

eu tenho um livro sobre animais xamânicos, não gostava de tirar as cartas, tinha o hábito de abrir aleatoriamente e volta e meia caía a gralha. esse livro eu roubei da mãe quando mudei acho, é bem bonito, se atendo principalmente aos ensinamentos dos indígenas norte-americanos, de onde veio o aprendizado e vivência da escritora.

como uma coisa vem depois da outra, falar da araucária, que a mami chama de pinheiro e eu também, sem aproximar a gralha, que tem estado tão próxima, desde que moro aqui, não dá. e abrir aquele livro e cair na gralha, sempre que acontecia dava uma sensação estranha. pelos simbolismos do livro, do quanto ela é enigmática.

quando comecei a conviver com elas aqui  achei muito mágico, lembrava um pouco daquela essência do livro, que sim, pra reproduzir algo daquele texto, apesar de já ter lido mil vezes vou ter que achar e ler de novo.

gralha "a lei", segundo uma lenda indígena, que ilustra o fascínio da gralha com a própria sombra, ela tanto olhou, tanto bicou, tanto arranhou sua própria sombra, que esta acabou acordando, tornando-se viva, e devorando a gralha. assim a gralha tornou-se a gralha morta - a guardiã do caminho da esquerda. 

gralha é um presságio de mudança, vive no vazio e não está sujeita às leis do tempo. ... a gralha é capaz de ver simultaneamente as três dimensões temporais: passado, presente e futuro, funde a luz e as trevas, percebendo tanto a realidade exterior, quanto a interior.

em uns bons anos pra trás, ainda no pantanal até, antes, abria esse livro todo dia. foi assim um bom tempo, até que alguns animais começaram a repetir com muita frequência e começou a me irritar. será que o livro estava marcado, pode ser, mas comecei a não gostar daquelas repetições e seus conteúdos, e como pessoa madura que sou, que super entende os sinais da vida, resolvi o problema parando de abrir, fui perdendo o costume, até que ele se perdeu na bagunça. aai ai.






lembrei de uns videozinhos com a Cibe, ela nem aí coitada, tava fazendo outra coisa dentro de casa. mas depois ela se animou, e curtiu procurá-las comigo. um evento. acho que isso foi no início do ano, finalzinho de férias. elas sempre estão por aí, mas tem um período, talvez ainda tenha oportunidade de perceber sozinha, que muitas se juntam, aí sim, pennsa na gralhagem.

e falando em Cibe, hoje é sexta! saudades da minha pequena.