segunda-feira, 22 de maio de 2023

 

minha mãe gostava de dizer que eu era insensível, fria.

ela dizia isso porque a gente brigava muito, e por vezes ela chorava, e eu só ficava olhando, sem dar sinal de emoção.

eu não ligava que ela dissesse isso. e se ela não sabia eu sabia que não era verdade.

mas às vezes, muitas, quase todas, eu não queria demonstrar nada, e fazia um esforço grande. muitas vezes por certo eu poderia ter agido diferente,

mas em  outras me sentia manipulada então não queria fazer parte daquilo.

nesses momentos de conflito ela recorrentemente era enfática em dizer  o que eu era, particularidades do meu temperamento, leituras que ela fazia, das minhas reativas, tal, que simplesmente não correspondiam a realidade. 

será que vou fazer isso com a Cibe também, ser aquelas mãe iludida, ser uma mãe inquisidora, equivocada em suas leituras?

eu receio a adolescência. tive uma difícil por muitas razões, mas eu encrenquei muito com minha mãe, claro que não sempre, nem em todos os assuntos e situações, mas a parte que a gente se desentendia era feio, queria tanto ser diferente. 

vejo o povo dando receitas de bem educar, e eu irritada, bem sem paciência. talvez devesse refletir mais. nem sempre fazer diferente de sua criação significa sucesso, isso eu sei.

e nem sempre a gente escapa de reproduzir algumas reativas. e eu sei também, sei não, nesse caso sinto, que educar tem mais haver comigo, do que exatamente com ela. não sei se me explico bem, mas ela está aberta ao que vem, no seu pequeno grande mundo de experiências infantis. como eu me integro a ele, influencio, inspiro, sou eu que vou escolher. os meus limites de inserção e os limites dela na socialização, essas escolhas, essas conversas, que difícil.

muita coisa é orgânica também. só vai acontecendo. e eu com essa tendência de sofrer antes, pra depois tudo ser tão fluido, não sei.

sabe aquela história de cuspir pra cima? adoro essa imagem porque sou dessas. e antes de ser mãe dava tannto palpite, noossa, como eu era crítica da educação alheia na minha cabeça, e olhar observador. eu só não fui pior porque a experiência de ter tido um Leonardo como parte da minha criação deu um olhar condescendente e empático de antemão ao que foge ao controle, às fórmulas de bem educar. ainda assim, passar por essa experiência de ser mãe, de acompanhar de perto o crescimento de um ser, pra mim, é um baita  exercício de humildade.

humildade inclusive pra reconhecer hoje a situação limite da minha mãe, seus nervos de aço pra administrar essas três personalidades e do quanto muitas vezes eu não facilitei.

teve que lidar com etapas diferentes, lidando com os marcos de cada um, e com os seus próprios e do casal, adversidades financeiras, expectativas, sonhos frustrados, projeções..

projetos, anseios, idade, seu ser mulher, sexualidade, vida. já disse aqui, e várias vezes para muitas pessoas quando reflito sobre o tema, passou de um filho já passo a achar de outro mundo, não sei se conseguiria.

essa experiência é uma escola, a frase é um saco, mas é bem ela que vou usar. escola por vezes escolhida, em outras pura surpresa, mas que te coloca nessa senda infinita, de exercitar todos os verbos do mundo, dentre eles, acho que se preocupar, cuidar e amar já dizem muito, e só esses três já podem abarcar pratos bem diferentes pra um mesmo tempero sabe como? em nome deles a gente vê muita coisa linda, e outras, nem tanto, enfim.

a Cibe aprontou uma comigo esse findi, e eu aprontei igualzinho com a minha mãe na mesma idade. eu nunca mais esqueci a consequência do que eu fiz, e também acho bem certo o que ocorreu. mas eu eu Brasil, que que eu façooo. 

estou aqui, pensando, a parte o primeiro impulso, que seria mais rico em significado, reflexão e aprendizado.. e vou dizer, apesar de ser muito de criança, e de eu ter feito igualzinho, eu fiquei muito estranha, senti um pouco uma decepção,  nem entendi porque já que o que ela fez está na exata faze de fazer, e minha presença ao perceber também. 

escolhas, né, como reagir. 

não posso demorar.

ó céus...