quarta-feira, 31 de maio de 2023

joão gualberto soares | dois entes

 

rua longa ein Brasil, muuuuitos comércios de tudo um pouco. mas sempre que passo por ali sei que vou ver uma árvore que eu adoro. seus galhos se bifurcam logo embaixo, andando reto pela calçada sem desviar você poderia atravessar por ela como um portal. me irrita não saber o nome direito. ela é gigante, as folhas láaa no alto, aí a última vez que passei por lá, peguei um pedaço de sua casca pra ver o que acontecia nos amarrados de ervas que estava fazendo. basicamente as ervas se vão, a casca fica, demora ascender, mas amei o cheiro.

não sei se é pinheiro, cedro, cedrinho não é, cipreste talvez, mas não é aquela coisa de jardim inglês sabe. essas árvores que parecem um algodão verde, tem vários tipos, mas se a que você conhece parecer muito algodão, é a minha.  ela me chama, me encanta, bom de olhar, ela tem algo pra mim que eu adoro não saber o que é.

e eu tive uma lembrança bem louca de infância ao ver uma outra árvore gigantesca. pena que não dava pra ver inteira, estava uma parte tapada por não sei o quê, muro ou tapume, linda, imponente, até assustadora. mas assim, a gente tirava folha dela, e cavava uns veios nos galhos e ela soltava uma seiva que era uma cola. aí a gente punha a folha onde escorria, e ia espalhando com o dedo pela folha. dali a pouco tava sequinho, mas nesse meio tempo a gente brincava de se pendurar nos seus muitos cipós, (acabei de ver que não são cipós, mas sim raízes aéreas, apaixonei mais um pouco) era uma delícia. a estrutura, galhos dessa árvore, formavam reentrâncias no seu desenho, em alguns casos dá pra quase sentir que entra nela. perfeita pra esconde-esconde. claro que a gente perdia nossa bolinha antes de crescer, ou não tinha paciência mesmo, aí outro dia fazia de novo. alguns poucos, crianças maiores que nós, tinham bolas grandes, uaaau todo mundo queria.

era Itambaracá, então eu devia ter uns sete anos, oito anos. isso era na praça  atrás da rodoviária que ficava na rua principal. essa que chamo de rodoviária era quase um ponto de ônibus normal, bem engraçado, mas vagamente, parece que tinha banheiro. ela ficava quase na frente da minha casa, e nossa casa ficava ao lado do banco. é a casa do jardim das delícias, o quintal dos fundos tinha muita árvore, uns milho, eles sempre inventavam milho no quintal, mas especialmente nessa casa os girassóis gigantes, muitos, era um matão encantado. ahh a casa das explosões de abacate, do bicho na pitanga e goiaba que até hoje não consigo comer em paz, dos pés de manga que davam manga, dos canteiros de morango.. a cidade era bem pequena, tanto que o banco fechou. quem quisesse banco depois o pai esteve lá, teria que se deslocar até Bandeirantes.

eu amei lembrar que amo Seringueiras. 

essa caminhada foi boa, muitas percepções, lembranças, paisagens, além de comércios de todo gosto. muitas muitas lojinhas de uma porta, muita informação, muito texto, muitos carros e pessoas, já disse isso, um pouco atordoante. 

as duas árvores não são próximas. uma fica láa quase no final, outra mais ou menos perto da minha casa. 

tomara que vivam para sempre.  ♡ ♡