quinta-feira, 25 de maio de 2023

histórias, memórias, afetos


ele praticamente disse pra eu aproveitar o momento, relaxar e aproveitar, aceitar e me entregar. eu não consigo entender bem.

ele disse, se você tivesse quebrado uma perna, entenderia bem a necessidade, mas porque o que passo é de um certo modo impalpável, quero achar que tem diferença.

na minha perícia a médica antipática perguntava o que tenho feito, e eu nunca pensei que não fazer nada fosse tão infernal, e não ter ânimo por mais que tente, fosse tão indignificante. ela fez bem o papel dela, saí de lá bem pior do que o neutro que eu estava. será que isso é bom então? fica o questionamento.

tenho coisas boas pra falar. e essa frase é a coisa mais bonita que posso dizer, apesar de ser tão simples. e o prático dela tão hetérico.

no começo do ano eu estava só com a ponta dos dedos pra fora. o segundo semestre do ano passado, me afundava nessa areia bem devagar, sem que ninguém visse, porque eu também não estava interessada nisso. o que eu queria muito é o que eu já queria talvez até antes de 2019, tomar conta da minha vida e pronto. que bosta né, puta case dee não consigo muito não. 

só que ter suas piores partes intensificadas e ignorar, só pensando que essa é sua nova vida não pode ser bom. e ficar lutando contra a maré do gênio também não, então o que é que eu faço?

entonces,.. acho que eu faço o que o Germano sugeriu, tô pensando em confiar um pouco nele. só que às vezes fico triste e acho que não tenho muito salvação, depois passa a tristeza, mas a dúvida ainda paira, mas veja só, já estou rindo.

aí aquilo que pra mim é precioso apesar de ser tão nada, é poder escrever aqui. deixar pra Cibe algo, aqui ou em outro lugar em outro formato, após uma curadoria necessária, talvez.

relembrar. ontem andei pela cidade, perícia no centro, médico no Saco Grande, e o meu bairro, esse da minha escola, é bonito, sempre achei. essa mescla entre o natural e o social, o administrativo e o morro, a comunidade, é um rolo, mas gosto. uma vez peguei um ônibus errado pra ir pra escola e fui parar láaa em cima de um deles, desci no alto pra ver a vista e vim descendo com as crianças,  era, é lindo lá. e perigoso, várias partes, do que a gente ouve, das histórias rotineiras das crianças, a realidade crua dentro daquela paisagem. 

adorei esse dia de descontexto e também de maior aproximação, apesar de ter chegado meio atrasada na aula. por mais que a gente tente é difícil alcançar a realidade deles. quanto mais a gente tenta, mais humano a gente fica, isso é certo, e mais confuso também. porque as coisas não funcionam e não adianta aquela coisa de ovo e galinha, o que vem primeiro, são tantas frentes problemáticas que compõem o estado atual que olha, eu não sei.

estive andando por lá, parei o carro longe, no meio do caminho vi uma árvore, essa da foto. dentre muitos lugares que dá vontade de parar mas fico com um pouco de vergonha que fiquem me olhando, observando. acontece quando tô mais frágil. 

e olha ela, cheguei hein, olhe bem pra ela o tempo que eu queria mas não pude. esse era pra ser o início do texto. eu queria era falar sobre essa linda. veja bem, isso vai loonge..



eu quando estava me alfabetizando escrevia letras aleatórias no chão com giz, muitas, e chamava a mãe pra ver se compus uma palavra. e ficava super feliz quando conseguia, aí continuava escrevendo, e chamando, e ela de saco cheio já, sempre vinha.

essa coisa de escrever com giz no chão, a mãe fazia muito isso com a gente, porque era uma época que ela precisava muito de sol, aí era perfeito. e eu ficava encantada com a árvore que ela sempre desenhava. eu fazia a árvore simples, estereotipada e olhava a dela impressionada. era um pinheiro. eu sempre que vejo um pinheiro, também lembro dele a giz, em contraste com o cimento do chão, e é doce, simpatizo, me sinto em casa. porque minha mami desenhava pinheiro será?


o Bruna, ué, o que deu em você? tá bom vai.. eu sempre adorei desenhar o Pinheiro. pensando bem, desde criança, quando eu tava na escola eu desenhava no caderno, talvez tenha visto nos livros e me apaixonei. aí eu desenhava, lembro que eu desenhava na calçada, desenhei a vida inteira.  depois em Siqueira Campos naquele pasto, você não lembra que tinha um Pinheiro? e no braço do Pinheiro tinha um monte de casinha de joão de barro? eu amava aquele Pinheiro, eu amava. agora pensando bem, acho que aquele Pinheiro, com aqueles moradores lá, de vez em quando enchiiia de piu piu eles ficavam num coral lá, acho que era um presente pra mim..


mami demorou pra responder. ela foi falando no áudio, adorei. aquela casa, aquele quintal, tanta bagunça que a gente fez. e eu não lembro do Pinheiro mas compôs bem com as imagens que me sobram de lá.

pra mim era olhar praquele fundão e, ou chamar as vacas com as folhas de milho que elas adoravam comer, vinha o bando todo quase, pouco a pouco, enrolando as folhas na língua e puxando com força da nossa mão. ou pra ver se elas não estavam lá pra catar esterco pras hortas do pai e da mami, ou então pra se enfiar no mato em aventuras com a mãe.


fui longe, eu disse. e agradeço aquela caminhada até, e mesmo essas associações involuntárias. sair de casa foi estranho, mas bom. aquele susto de civilização que costumo ter quando vou buscar a Cibe, ou saio pra alguma coisa. e pra mim, naquele momento o Pinheiro foi minha mãe, minha história, minhas lembranças, minha casa, meu acolhimento.

era isso afinal que queria dizer. algumas preciosidades mínimas que entrelaçam passado e o presente. tinha, tenho lembranças  soterradas, me alenta  o que venho resgatando.

agora, do presente pro meu futuro, que será que eu deixo? ah é, fui recomendada a não pensar lá na frente. 

então é isso.


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fiquei com isso na cabeça, e depois nem lembrava onde tinha escrito. o que será que eu deixo né. não saía da caixola como se tivesse algo sobre, que estivesse se perdendo. portanto nem vou mesmo prospectar, mas vou é lembrar da minha mãe.

quando eu fiz essa associação meu coração sossegou. ela luta até hoje, e sempre diz que tem que estar atenda, mesmo papo de outras pessoas também dando depoimento sobre isso, e eu ouvia e simplesmente não alcançava aquele significado, conteúdo, experiência. apesar de sentir que aquilo de alguma forma tinha haver comigo. só que lá naquele fundinho de pensamento escondido sempre tinha um ui gente, não é pra tanto também née.

e aí agora eu fui, e vou entendendo no couro, e abarcando assim essa complexidade maluca. 

então é isso, minha mãe me deixou uma mensagem muito forte. fico admirada com ela, porque eu podia não entender, mas eu vi, acompanhei, e hoje eu sei perfeitamente a história e o exemplo que ela deixou.



01/06/23 .. uma data que quando criança eu adorava.