Bruna Mansani, mãe da Cibele, professora de artes
visuais pela rede municipal de Ensino, Mestre em Artes Visuais pelo Centro de
Artes da UDESC. Atualmente, com seu um ano e dez meses de maternidade, tem
buscado abranger, incorporar, assimilar e se relacionar em real interesse com
as outras atividades do mundo, ao mesmo tempo em que percebe a possibilidade da
arte como expressão da intensidade dessa própria experiência.
Eu fiz esse resumo de
atuação pessoal, e coloquei em primeira atuação a maternidade, porque até
então, como num processo de distanciamento, mas totalmente imbricado, ela povoa
minha mente o tempo todo, e abrir o espaço pras outras atuações da minha vida e
as outras importâncias é o que eu tenho feito desde então. É sobre isso que eu
tenho vontade de falar, é isso que eu sou agora, se for pra me apresentar. Meu
passado me constitui, mas uma criança me colocou num presente muito intenso, e
humildemente é nele que eu quis me colocar, e assim que eu queria ser vista.
Eu trouxe aqui pra mostrar
pra vocês dois experimentos, não que eles tenham importância em si, mas porque
as circunstancias com que eles foram criados tem haver com a proposta de hoje.
Talvez eu seja bem pontual, mas fica em aberto pra gente conversar depois na sequência.
Então a primeira situação que eu vou contar é a de
que aos 36 anos eu engravidei de meu companheiro, a gente mais ou menos
planejou depois que eu realmente aceitei que seria algo fluido e dentro do
contexto da gente. Sozinha eu por mim, nunca tive isso de ser mãe como um fator
principal, importante na minha constituição de mulher no mundo, mas nunca
neguei a possibilidade desde que viesse de uma relação bonita, e que isso fosse
o desejo dos dois, como foi. Meu companheiro, foi companheiro, ele esteve
comigo, e era a pessoa que eu mais confiava em todo o processo, até hoje.
Intuitivamente ele exerceu e exerce um papel ativo. éramos dois inexperientes,
o processo é intenso, eu olhava pra ele no início via aquelas olheiras parecia
um panda, eu, nem me olhava na verdade, mas não estava melhor. Era muito
reconfortante vê-los juntos, as rotinas que eram só deles, os artifícios que
ele criava pra distrair ela, como ele criou uma rotina pra cuidar da casa e foi
assumindo coisas que eu naquele momento inicial não tinha a mínima condição de
pensar.
E então, a partir da
relação dos dois, e do espaço, do respiro que isso me dava, e do quanto aquele
momento era “sagrado” pra mim, eu comecei a me lembrar daquelas imagens de mãe
e filho tão recorrentes na história da arte, e em minha imaginação, passei a
ver Danilo e Cibele, aquele momento deles, que era um momento completamente meu,
e comecei a imaginar um registro assim, me apropriando minimamente da estética
dessas imagens, mas dentro do interior e da realidade da nossa casa. Quando eu
comecei a pesquisar, caiu a grande ficha de que essas imagens não registravam
qualquer mãe, e nem qualquer filho – até pensei nossa Bruna que sacrilégio! –
mas na verdade, dentro da minha história minúscula do lar não havia também,
situação mais preciosa.
A segunda situação tem haver com minha relação com um bebê tão pequeno, todos os estranhamentos de uma mãe inexperiente sob uma responsabilidade tão grande, do quanto minha história, facetas da minha infância afloraram, do quanto eu gostaria de estar pra essa pequenina mulher em todos os momentos, garantindo que o trato com um ser vulnerável digno de respeito, por alguma razão ou outra não fosse subvertido. O presente e o passado em relação, eu comecei a pensar numa maneira de purgar esse passado, e homenagear o presente corpo livre de minha filha através de uma ação, uma imagem, uma palavra.
Essa é minha contribuição.