sábado, 21 de outubro de 2023

até hoje

 

eu tinha uma entrega.

era algo normal, um atravessamento, nada demais.

algo meio esquisito essa coisa desses dias, de entrelaçamentos virtuais mais íntimos que a presença, para depois acomodar a espontaneidade ao contato presencial.

eu tinha um conhecido que sabia mais de mim, em tempo recorde, que muito amigo, e era mais desconhecido que muito atendente de mercado.

não um completo desconhecido, tinha já certa admiração, por representar entre atos e fala, um composto digno, uma vontade de pensar diferente o mundo, a qual, me afinizava. 

mas entre admirar e interagir, pra mim, existe uma diferença determinante. então, a encomenda e meu coração nas mãos fomos descendo rampas e escadas para encontrar aquela pessoa, que talvez estivesse vendo em mim algo que eu não estava a altura de ser. era tempo de finalizar a palhaçada, acomodar as coisas.

eu não conseguia evitar. mas isso é só uma lembrança engraçada de algo muito meu. do quanto eu sou bobinha. 

sei que muito do que a gente não enxerga, independe de nossa noção pra acontecer. então por que marcou esse momento, de entrega e papo furado, é uma excelente muito boa pergunta. 

e eu respeito o momento e a sensação enquanto forem relevantes, não se surpreenda, de vez em quando eu me trato bem.

o tempo passou e essa experiência é simples, e viva. é minha. sempre coube, e foi palco de muita racionalização e auto-repreenção também, sentir algo que não deve, sem querer, sem entender, e  no momento errado. 

mas eu não me atravessei. não faço isso. e também, sei meu lugar, e minhas limitações, não podia ajudar, nem oferecer meu afeto, aliás, eu nem saberia fazer isso. mas estive, em tudo que pude, próxima.

foram muitos exercícios de supreção, apagamento, eu queria que sumisse, ninguém pode estar tão só, e carente talvez pra conviver com imaterialidades, fantasmas. até que como disse, larguei mão, mas não o largar de abandono, mas o largar mão de naturalizar, deixar ser, perceber a progreção, sentir o que tinha entre dor e beleza, dando vazão a energias que fisicamente tem defeito, não fluem, bloqueadas por uma série de castrações auto-inflingidas, e/ou provocadas pelo entorno, coisas de quem tá no play da vida, sujeito a tudo, entre mais e menos, como todos. 

e ainda alternando entre entrega e corte, aqui estamos. lindos castelos de areia sem castelos. eu preciso me cuidar, pra não me deixar levar por este solo e esquecer dos pés no chão. lembra tudo o que eu já disse sobre minha dificuldade em interagir e conviver entre meus pares no mundo?

é o não-lugar mais significativo que vivi. sedutor, doído e apaixonante, me ensina sobre mim e sobre as energias de vida que compõem o mundo, louca ou sã, algo meu.

um exercício de atenção, um meio fio entre sanidade, ficção e sensibilidade, que caminho intensamente, mas não pronuncio. 

eu sei que esse é mais um capítulo da novela eu me presto. mas..

tô nem aí, acho..

se tem uma coisa que eu desisti, e escrevo profundamente contrariada em admitir o que já é óbvio de tibumm, e quem me lê sabe, mas não sabe.

abri mão dos meus segredos. você não, mas abri todos eles, me esvaziei aqui. muitos e muitos.

o que fazer quando tantas palavras já se foram, em um conjunto entregue, entre vivências e assimilações?

quando a gente monta quebra cabeça e desmonta, você pode montar de novo, mas será que tem novidade? pode ser que tenha expertise né. destreza, estratégias, mais intimidade, .. é. tudo bem, contra-gênio não é uma prática ruim.

contrariar meu gênio é uma esperança, um comprometimento, é um estar voltada pra, como chama quilo, evolução da minha espécie, não a humana, a Bruna. 

até recomendo, mas nem todo preparo é suficiente tá. e talvez aí que esteja a graça.