morro todo dia e com vontade.
não posso desejar morrer, então desejo dormir, é mais cristão, e ainda me garante o céu.
nem é muito consciente sabe, nessa instância é auto-análise de corpo, de disposição mesmo.
sendo assim, todo dia morro com sede.
e todo dia quase, toda hora, anseio por morrer.
e é muito bom se entregar, fazer essa passagem.
resolve todos os problemas, adia as dores e as consequências, e as iminências, é ótimo.
acordei de uma morte agora pensando na próxima como um grande colo, carinho, aconchego da minha condição de ser um organismo que precisa de um tanto disso.
Memê se aconchega lindamente, cria ninhos para sonos, poses, odeia colo e agarrão de toda espécie, mas seu lugar desde que se instalou em casa, nunca foi fora da cama, nem fora do cortinado. ela sabe o que quer, inclusive porque seu lugar ideal ainda é buscando meu corpo como quem não quer, um quentinho de pernas, um cantinho de barriga, costas. é uma cara-de-pau, isso sim.
me quer não me querendo, faz questão de mim e do meu quentinho. mas é um me querer do jeito de dela onde não cabe o meu, a ponto de poder dar uns arranhão do nada, quando me passo das condições subentendidas, ou dela manifestar sua brabeza passando uns tempos láaa no ninho da Cibe, onde ninguém dorme.
isso pra me deixar claro. assim do meu jeito sim, do seu jeito não, vamos nos dar bem como eu quero, me respeita. do seu jeito não existe porque eu sou uma gata, nossos mundos são iguais, mas nossos olhares sobre ele são bem diferentes. você tem meu amor de gata, não é pouco. lide bem.
eu então, assim como ela, crio meus ninhos. me inspiro, e às vezes conto com sua presença. mesmo que comece sem, acordo com, e é muito bom estarmos juntas, especialmente quando Cibe não está. ainda me sinto importante e querida por alguém. mesmo que as leituras de mundo, amor necessidades, sobrevivência e convivência de nossos mundos sejam paralelas, contemporâneas, mas não iguais.
oi dia, planos de aula, organizaçao burocrática escolar. Bom dia iminência de greve, cheque especial, dia das crianças com chuva, Cibe com o pai com saudades da irmãzinha que nunca vê, mãe de manhã com lição de moral, manifestando seu receio de morrer de verdade, sem me ver tomar jeito. oi chuva que cai, que me inibe levantar e sair comprar algo pra comer, porque não comprei ontem e agora caara, quallquer coisa menos sair. até fome. mas acho que tem um maçã ali. oi também pro meu enjôo já presente, estômago inflado sem razão que se mostre, desconforto. oi você Brasil, mundo, universo.
queria morte, mas isso é daqui a pouco, e a melhor morte é depois de um pouco de vida. então vamos de vida mesmo. tudo certo.
levantando.
café.
fui.
