Batuque de parar o tempo
Boteco para fazer hora
Beber pra lá da saideira
Viver depois do expediente
Mais uma para esticar o papo
De novo até perder a conta
Pra ver se um dia perde a graça
Pra sempre como se possível
Falar até morder a língua
Cantar até o fim, cigarra
Dançar até baixar a Gira
Festar até bater polícia
Beijar de adormecer os lábios
Amar até brotarem filhos
Brincar até voltar a infância
E rir de doer a barriga
Pensar até a cefaleia
Berrar até furar o fole
Brigar até virar notícia
Chorar de derreter os olhos
Desculpas de ralar joelhos
Correr até gastar as pernas
Cansar de perder os sentidos
Sentar de lótus como um Buda
Comer até virar um boi
E adormecer em meio às flores
Sonhando de barriga cheia
Dormir até doer as costas
E amanhecer pela calçada
Como no último dos dias
Partir daí como se nunca
Assim como se fosse nada
Batuque de parar o tempo
Boteco para fazer hora
Beber além da saideira
Viver depois do expediente
Mais uma para esticar o papo
De novo até perder a conta
Pra ver se um dia perde a graça
Pra sempre como se possível
Silvio Mansani