terça-feira, 28 de novembro de 2023

Onde você mora? Cidade Negra

 

eu não tinha um amor

não sabia o que era isso

também nada em vista, eu era descolada das pessoas da sala, à parte

me escondia em livros que eu lia que hoje não lembro absolutamente nada

eu atravessava o centro da cidade

sempre tive uma história com o centro, sinto saudade

descia do ônibus São José e ia atéeeee a Hercílio, no IEE.

aliás, aquele terminal era horrível. o sistema de ônibus era péssimo caríssimo e eu não cansava de me horrorizar, porque em Londrina era perfeito, e eu tinha acabado de chegar. comparado ao daqui era.

um bom tempo depois disso, esse terminal velho e feio, na frente do ponto do Kobrasol, troquei meu primeiro beijo com Yan. 

estou rindo, ahhhhh que lembrança sei lá, viu. meu papo é antes disso. se meu primeiro beijo, nessa localização, chovia inclusive, como agora, Jessuis, não quero lembrar e já lembrei, foi aos 19, o causo desse relato é aos 12.

as mãos dele suavam, me chamou a atenção.  eram lindas e até hoje sou apaixonada por aquele tanto de linhas. ele foi meu modelo vivo das aulas de desenho, todas. adorava, e joguei tudo fora. tenho dois perdidos na bagunça, às vezes acho.

o terminal não existe mais, hoje em dia é um estacionamento.. quannta criatividade.

então eu circulei por lá sete anos, até que ele se tornou essa lembrança engraçada. tinha tanta gente, eu morava em Campinas e ele no Kobrasol, cruzamos o centro do SENAC do técnico de turismo atéee o terminal, e eu estava dividindo guarda-chuva. ele sempre foi cuidadoso com essas coisas. eu aliás com tooooodas essas chuvas não fui capaz de comprar um. só hoje peguei umas 500 chuvas. tem coisas que não mudam.

íamos pegar ônibus diferentes. e sentamos por fim e começamos a perder ônibus. os assuntos acabavam e voltavam. 

não era isso que eu queria escreverrrrr, saco. mas as coisas se interligam até. então nos beijamos nas reticências de algum papo. queee coisa mais bonitinha. outra vida. sete anos depois dos meus 12, sei lá quantos muitos do meu hoje.

o IEE era uma cidade, e eu me escondia no recreio num canto que não podia entrar, que era a área dos cursos extra curriculares. eu dava um jeito, não lembro qual. tinha muitas árvores antigas com aqueles bancos em volta, era lindo, silencioso, e eu passava o recreio ali com algum livro.

andei repetindo de ano, matava aula horrores, ia pra casa dormir, ia pra casa me esconder. pulava  a janela, burlava os fiscal de corredor, e ia.

ahhh muita coisa né Brasil. eu era nova na cidade, na escola, na turma, na adolescência, meu gênio não era muito bom não, e estava em tilt mais que o normal.

subia o morro da Irineu Comelli chingando, abria o portão de metal, subia, a casa era numa subidinha, aí tinha umas três escadas e dava pra sala. alí batia sol e eu adorava deitar ali, e ficar no solzinho. um céu. quanta ousadia né, fugir para ali.

tá dando saudade do meu pai, lembrar dali, mas ele não está nessa história, não posso dar mais essa volta..


o aparelho de som ficava na sala, eu chegava, ligava em uma rádio qualquer dessas que adolescente gosta em sua época. 

eu não tinha um amor

não sabia o que era isso

também nada em vista, eu era descolada das pessoas, tinha medo, queria falar, a voz não saia, eu não sabia me comportar, difícil.

mas o que eu parei pra escrever, sem poder e dever é um desses dias de chãozinho casa, sol, e som.

eu ouvi aquela música e ela se casou comigo e com o sol, e aquilo me fez sentir tão unicamente feliz, que toda vez que a escuto, lembro exatamente dessa situação, desse dia, dessa experiência. 

ela tocou aqui do nada no aleatório de uma sequência aleatória e eu senti saudade do sol. eu dedico essa musiquinha que cansou nossos ouvidos à sua época, ao sol, àquela varanda, àquela adolescente.

Bruna Bruna.. toma jeito Bruna.