quinta-feira, 6 de abril de 2023

na superfície da terra


no fim das contas, o chão é a maior cadeira do mundo.


uma frase banal, dentro muitas de uma série que nem estou vendo.

como eu gosto de sentar chão, deitar, esparramar. não existe nada mais convencional e careta que uma cadeira. claro, existe algumas que parecem ninhos. ainda assim, não sei. ah, tem a rede né, amo, estou nela até. mas eu sempre penso que sou bemvinda em uma casa, à vontade, quando estou no chão.

o meu primeiro date dos apps, foi na grama da beira mar em dia de lua, um acaso, papo bom. um outro cara sentamos no chão das rendeiras quase meio fio, porém na areia, engraçado. espontaneidade. quando você não tem nada, tudo é uma possibilidade, se não tem maquiagem, o sombreado é o acaso, a luz do sol, o farol de um carro. simplicidade. o chão é a maior cadeira do mundo, eu amei isso.

um dia conversando com um cara que mora a três quilômetros de mim, o convidei para sair de casa e andar ao meu encontro, eu sairia também, nos encontraríamos num meio de caminho, pararíamos no primeiro lugar possível, e depois, quando a gente enjoasse um do outro, refaríamos a volta. o primeiro encontro mais casual do mundo.

ele não me quis. não botou fé, papo morreu. pena. mais que por ele, estava louca para a experiência desse trajeto, da surpresa. iria adorar gostar do macho, e não gostar também, o mundo merece mais franqueza  né.

eu sou de profundidades. eu levo muito a sério o que me dizem, e muitas vezes minha avaliação tenta as entranhas, uma essência que eu nem sei se existe, não que consiga, e que não sei se estou pronta para oferecer também, embora sempre tente.

superfície Bruna, o subsolo é a escuridão do não nascente, do porvir, do potencial. sai de lá mas não vá pro céu, pra elocubração, pro devaneio, pro etérico. superfície.

rés-do-chão. zona de contato entre pés e terra, compressão. esfera dos acontecimentos. aai, eu tô que tô. esperando meu remédio novo fazer efeito pra finalmente ser outra pessoa, feliz. é meu novo dia 1. e estou sendo um pouco irônica, mas tenho uma esperancinha porque eu quero não ser mais eu, e ver o mundo com outras lentes, mais disposta, enfim.

deitar no chão, olhar o céu por essa horizontalidade, copa das árvores, nuvens, bichinhos passando, mordendo, ventinho, languidez, esse conjunto todo, eis um paraíso.