quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

filha de profe


chegou a minha vez. 

um outro tipo de minha vez.

a criança em férias com mãe profe sem ter onde enfiar a cria, faz o que.. leva junto.

eu ultimamente, e sempre quis na verdade, que a referência de lar fosse comigo.  já pedi desculpas em pensamentos, coração, e no verbo também, por às vezes não ser aquilo tudo, mas fico de coração mais em paz, de te-la ao meu lado.

e ontem foi assim.

hoje será assim.

espero que seja bom.

pode ser que não seja.

mas estaremos juntas, vivendo, sentindo e refletindo, tretando e tentando melhorar.



e sim. perdi um sono estranho.

pelo menos os moços calçando a rua e as máquinas me mostram vida. 

a Cibe do meu ladinho quente ressonando me mostra vida.

e eu. ah, vida também. tudo certo então.


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estava com um livro com reproduções de obras de Franklin Cascaes. é uma série, mitologia marinha, onde ele cria uns seres muito loucos e lindos. coloquei ela sentada com uma estudante bem quietinha, que estava à parte dos colegas do funk, com a caixa de som, e pedi para treinar desenho, tentando reproduzir ou criar a partir deles, dei um pra cada uma. na foto só está aparecendo o da Cibe, mas os dois ficaram bem fofos.

neste dia conheci e de um corte no MC Kevinho, entre outros. descobri que eles gostam de colocar músicas de tiktok para fazer dancinhas, repertório funk né, e pra convencer a gente a deixar existe essas séries que suprimem os palavrões, mas a coisa não melhora sabe.

eles também, são super amigos, mas se tratam super mal, brincam e se comunicam se agredindo e chingando o tempo todo, o que faz  despontar conflitos, que muitas vezes são encenados para tumultuar a aula e se divertir, sobrenpondo suas vontades aos acordos de convivência e mesmo o regimento escolar, e grande parte das vezes se empolgam, e tudo acaba por virar um grande conflito de verdade.

Danilo entregou Cibe no início da tarde, bem mas aulas da turma 72. e aí, nesse contexto fiquei pensando se deixar minha filha ali seria bom. até que ponto ela ter contato com esse ritmo de grupo não seria para ela um outro tipo de aula. 

sem resposta simples.

claro que a turminha, eram poucos até, ficou feliz em ter a filha da profe ali. se contiveram um pouco, e eu gostei dessa experiência. mas faz pensar.

Cibe está no primeiro ano, passou pro segundo, mas em termos de conteúdo acompanharia super bem ali as aulas do terceiro ano. e mesmo a turminha do terceiro, o comportamento é o mesmo, o repertório musical não muda, e vocabulário improprio, questões também impróprias com relação à sexualidade, preconceitos de todo o tipo em provocações entre os colegas são uma constante.

seja os grandes, ou os pequenos o número de estudantes na sala vence. é difícil propor aulas diferenciadas, práticas coletivas tão comuns em aulas de artes, com o agravante de que nossa escola não possui sala própria para essas práticas. é sempre um desafio. e é agressivo também num primeiro momento porque você precisa, mesmo como a presença adulta, naturalizar muita coisa para sobreviver à rotina, influenciar, ser ouvida. 

um agravante também pra mim e pros outros profs de área em se tratando de anos iniciais é a pouca carga horária semanal. nós não somos profs de referência, então demora bastante encontrar um ritmo, e conquistar espaço para uma troca mais saudável. 

via de regra somos forçados a incorporar os clichês de profs repressores, contornar conflitos o tempo todo, retirar crianças de sala, gritar. 

e gritar, brigar, dar show, parece ser o único meio.  encontrar outros é o grande desafio sempre.

aí a frustração de não concluir o conteúdo da aula, por vezes não conseguir silêncio para fazer uma chamada,  não conseguir dar atenção aos especiais que demandam atenção e planejamento diferenciado, não conseguir chegar e conhecer melhor o quietinhos ou destaques positivos, e não ter muitas vezes a satisfação de estar em determinadas salas onde tudo se intensifica, tornando-se mesmo, um tormento. 

aí ser cobrada pelos registros diários, datas para os planos, atençao aos atestados, aos cronogramas de eventos, criar situações diferenciadas e projetos coletivos.. entrar e sair das salas nas horas certas, trabalhar com materiais diversificados, no meu caso, e claro, expor.

no caso dos anos finais, o que é comum é alguma desmotivação para as artes, o famoso não reprova, como desculpa para não levar a sério, a malícia e o desafio constante do estudante para com o profissional na sala, que se torna alvo para sobressalencia e disputas de poder pros que, não temem consequências e se divertem com os conflitos, digamos assim.

eu não sei.

e sei.

aprendo um pouco mais a cada dia e a cada ano. sobrevivo e vivo, buscando alternativas, me vinculando mais, indo pela afetividade, lidando com fracassos em todas as frentes, e com conquistas também, claro.

sinto que estou sempre em dívida, todos à frente, e eu correndo atrás, tentando abarcar todos os aspectos e não conseguindo, tentando dar conta de 40h de trabalho e ter vida. não levar trabalho pra casa, pro fim de semana, o que pra mim, .. na real,  eu acho meio impossível. 

mas tento gostar e não me frustrar, gostaria também de manter e desenvolver o caráter de pesquisa, de reflexão, de criação sobre as aulas, mas a compilação e mesmo o registro do trabalho ao longo, é algo penoso de abarcar, frente aos outros compromissos que essa rotina abrange.

tenho grande frustração com imagens e arquivos perdidos. com minha bagunça de acervo e dificuldade de organização, o que por vezes também me dá alguns trabalhos dobrados por trouxisse.

tudo isso pra dizer que meu ano foi de um escuro, e um claro, em termos de trabalho. na parte escura, fiquei feliz em conseguir trazer em texto um pouquinho de alguns trabalhos que, longe de perfeitos, foram a seu modo, concluídos com alguma satisfação sabe. 

foi importante no estado em que eu estava onde me vi numa sala vazia e fechada sem nada, não tinha mais nada pra continuar nem ser. eu precisava reencontrar um pouco de trajetória como pessoa, estabilizar o mental e o emocional, porque a perda de sentido foi muito forte.

fiz isso um pouco com o Contramão também. um pouquinho com a parte artística da outra vida.

nunca consegui comentar por aqui o projeto da Loja 55 acho, com as Bemditas. outra sombra na minha história, já que nunca menciono como criação e/ou conquista, porque até foi. 

que louco né.

de uma forma geral, ações bonitas, crescimento, mas sempre na casa do esforço e sobre esforço, mas não da satisfação. 

e se eu me perguntar, o que me deixa feliz como trabalho e ação no mundo, meu prazer, realização em ser fazer e contribuir, e ser reconhecida e auto-suficiente.. coisas assim..

melhor não perguntar.

pra não cair.



enfim..

dormir,

e seguir..


15/12/23


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Bruna. mas porque mesmo você não muda e mudou de escola, sendo que está lá desde 2014, e claramente já teve oportunidade? ou outras redes? ou ensino acadêmico? ou artesanias? ou comércio?

nada é tão simples.



16/12/23