segunda-feira, 25 de março de 2024

mulheres


pamonha, cural especialmente, doce ou salgado, essas feituras mais complexas pra mim. coisa que mulherada gosta de dizer que é pra quem tem mão.

minha mami  falava com saudade  das feituras da vó Dita. 

meu papi gostava de chamar minha vó de véia Chica, dona Chica, Chiquinha. também, olho dele brilhava. as especialistas. 

a vó, tia Nana, tia Balbinha, e minha vó teve ums trocentos irmãos, mas tinha uma que sempre via, estava sempre visitando quando a gente também tava. ela tinha um nome estranho, e tenho pensado muito nela nos ultimos tempos. por causa do meu sono sem fim.

é a tia Leontina. ela sempre foi muito gordona, tipo vó redonda sabe. e tinha uma risada mmmuito escandalosa. uma gaitada mesmo. 

ela morava perto de São Paulo. sempre fico imaginando os vô saindo de, onde era mesmo? Guaxupé MG, aí vieram vindo e caíram uns filho pelo caminho acho.. de lá até aqui tinha irmãos pelo caminho.

mas a tia tinha algo muito impressionante. ela estava falando animadíssima, até no meio de piadas, do nada, puffff ela pegava no sono. aí depois de um tempinho ela voltava como se nada fosse, voltava a conversar..  animadíssima. 

diziam que era uma questão cardíaca. mas gente, tudo nela era engraçado, e sua gargalhada,.. histórica. o amor das duas também. muito ligadas, bonitinho de ver.

a tia Leontina era a filha mais nova. e acho que a gente se encontrava porque íamos em datas festivas, assim como ela.

Mila me disse que ela morreu de coisa de pulmão. dizia sempre que queria trazer os filhos pra Vó Chica conhecer, zilhões imagino, minha vó tevesete, um não vingou. pouco antes dela falecer conseguiu levar. já estava ruim, tossindo horrores.


Mami reafirmou que as pamonhas da vó Dita eram as melhores..

mas pra qualquer dos lados, do que eu via, sempre juntava um monte de mulher, uma querendo mostrar mais jeito que a outra, de minha parte lembro da irmãs se juntando. quem descasca mais, rala melhor, avilia ponto. a congregação, a comilança. 

as pamonhas da vó Dita eram uma delícia. eu que ralava o milho, a gente fazia de sacada as pamonhas. e eu comia que nem, louca porque eu adorava. 
coisa de criança, marcado né, eu ralava e ensacava, adorava. as pamonhas da Vó eram as melhores.

isso são.. lembranças de criança que olhava com curiosidade para pessoas apaixonadas por algo que particularmente eu e meu paladar não viamos tanta graça. eu sou cria do chocolate, do açucar, danoninho, pirulito sei lá. crescida e formada no açucar branco, mais restritivo. muito rapidamente perdeu a graça o doce de banana, casca de laranja, goiaba, pamonha, cural, batata doce, etc. esses doces não eram tão legais quanto bolacha recheada, bis e leite condensado.

mas sempre algo com o milho, meus pais em seus quintais faziam as carreiras, tudo bem, eu amava milho cozido, e enfiar semente no buraquinho, brincar no quintal, mas é algo que na mão, na visão deles era uma iguaria, algo de maravilhoso.

me pergunto o quanto de memórias não suscita, já que são da cidade, mas com pais tudo da roça, do interior de Minas, e que vieram pro Paraná Santa Mariana pra continuar com a mesma feitura na roças de lá.

o pai foi um dos últimos, mas também nasceu na roça, mas um pouco maior vieram pra cidade, e vô Matias abriu um bar.

Vó Dita bem.. tava por aí, quando se casou com meu Vô Silvio, um senhor italiano já de idade, corcunda, que nasceu no navio. 

ele tinha uma venda, esqueci aquele nome antigo pra venda que tinha tudo sabe. 

minha vó já tinha duas filhas meio grandes, que iam e vinham. depois logo se casaram também.

mas pra mim, a presença do milho da infancia não se conservou, foi perdendo presença, e valor. o veneno, a transgenia tiraram uma inocência de algo bom e saudável. de tudo na verdade. mas o milho tem um desencanto.

lembro quando mãe se ressentia de não conseguir ter frutas em casa quando a gente era pequeno. para além das que eventualmente a gente conseguia no meio dos mato por aí, nas cidades pequenas que moramos. quando isso foi possível, a razão foi, não que ela ficou rica, e sim, elas já não eram tão boas assim. cruel.

Cibe ama milho, mas não conviveu com o pé, ao menos o pouco que eu. e adora milho em lata, que come frequentemente enxendo meu coração de culpa. mas estou firme. nunca mais eu sofro uma vírgula por isso.

Dridi me deu umas espigas de uma cesta orgânica que ela tem comprado, esqueci de onde. 

Desde que colaborei com o inicio do BemViver de perto da casa de mami, e recebi umas coisinhas,tal, nunca mais entrei em nenhuma iniciativa. e faz um tempo bom aí que declarei minha desistência de tentar. eu vou comprar e comer o que for mais prático e simples pra mim, e vai todo mundo pro inferno. o todo mundo que vai me dizer que hoje em dia é muiito mais fácil e acessível que já foi, e que comparado a gastos com saúde o sobregasto não existe. ahh vai se ferrarrr. minha dor é outra. se for pra morrer antes beleza, estou com os meus. é dado pra pesquisa.

nossa comida é cada vez menos inocente. eu sei que é de um barato que sai caro. não tenho ilusões. 

mas se não posso lutar contra isso agora. se eu não tenho força pra isso. melhor ser uma iludida deliberada, né. me convence aí que eu deixo. conta qualquer grosélia aí, que te devolvo um olhar de compra. 

se for barato, e fácil.. vou comprar tua história de boa.