quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

como você sente, como você analisa? mais sente do que analisa, ou mais analisa que sente? | qual o meio termo de um polo?

 

saber, tentar saber e colocar em prática essa balança aí.

quando racionalizar contribui,

e quando cegar seu racional, ego, de luz, de amor, forte, mas tão forte, ao ponto de se tornar um sol, puro sentir e afetação, é a melhor resposta.

por vezes permitir ser, se desfazer na vibração onde o todo atua, sem voz, e atemporal em sua manifestação.

por vezes trazer as palavras, que caem sobre a matéria em forma de interação para quem quer, ou precisa escutar, e trocar as informações e percepções de seu olhar individual, seus sucessos e insucessos de existir, entremeado a seus pares.

sentir, ou dizer de sentir? passei quase meus quarenta anos e mais um pouco, horrizada com a pergunta, como você se sente sobre isso?

aí eu  começo a responder, sou interrompida várias vezes pra o interlocutor me dizer que minhas palavras não estavam indo de encontro ao que me fazia sofrer, seja de forma consciente, mas maioria das vezes, não.

sentir dói.

em especial para quem se deu mal, historicamente, pela doença dos sentidos que assola muitas pessoas ao nosso entorno desde sempre.  dói para vítimas da malícia do mundo, abusadas por quem quer demais, quer o que não é seu, desprezando ou subjugando vulneráveis. 

viciados em ápices de gozo, como se essa fosse a única razão de existir, tem quem busca investir essa sede contra o corpo do outro como pressuposto, usando essa energia como gerador e intensificador de poder e êxtase. isso sobre indefesos, e em qualquer oportunidade, e eu, fui inserida nesse mundo de seis pra sete, quando poderia ter continuado inocente, e pura manifestação de luz e alegria como o sol, por mais um tempo, enquanto crescia.

sentir, dói. resgatar e liberar esse registro do corpo, dói, e, lógico, talvez, ou ao menos pra mim, exista um bloqueio, que ao longo do tempo venho tentado liberar. 

tenho horror ao que existe de mais lindo, genuíno e amoroso, no contato entre humanos. um simples carinho não é limpo, inocente pra mim. essa é uma asa quebrada muito triste. aceitar um afago, enxergar e aceitar esse amor, mora na casa do esforço.  eu já melhorei, lógico, mas não é como se nunca tivesse existido. juro que eu queria que fosse resolvido num plim, aaaai ai, se a vida fosse filme né.

em 19, final de 19, eu deixei uma mulher tocar meu corpo despido e entregue à sua expertise. a proposta era exatamente essa, liberação.

eu queria tirar do meu coro a dor de não conseguir sentir amor, sem a sujeira. de me prender dentro de mim de um jeito, que pode ter levado a prejudicar meus relacionamentos, inclusive e especialmente o que terminou, em uma escassez tão grande. eu sentia culpa por negar o melhor de mim, pra uma das pessoas mais importantes da minha vida na época.  mas era defesa, muita coisa errada, eu não consegui sublimar e ser esse melhor.  sinto culpa até hoje. arrependimento de estar livre não. culpada por não ter sido diferente mas reativas, sim.

a ponta de seus dedos delicadamente deslizavam por todo meu corpo de cima abaixo, criando uma energia, uma campo de energia que depois de um tempo sentia perfeitamente sumir e descer acompanhando seu toque, despertando minha pele aos sentidos. ao mesmo tempo em que me sexualizava, e era bom, junto a isso, um crescente desespero, as mãos, o toque, meu corpo, o corpo do outro, mas eu concenti, existe um deleite, um torpor, e ao mesmo tempo uma culpa, e uma dor, como se o outro ali quisesse tirar algo que não quero entregar. nauseante, desesperante, eu respirava, e sentia, e me permitir sentir, e era bom e terrível, dependendo do local onde seus dedos percorriam eu sentia muita raiva, e dor, entre gostar e odiar, que inclusive agora relatando sinto. até que em dado momento de êxtase, explodi, num gozo, composto de desespero e prazer. uma catarse.

eu odiei.

e faz parte de mim pensar que ela roubou de mim, o gozo.  e seus dedos eram espinhos,  teve muita dor envolvida naquela experiência sensorial que tinha exato isso, o propósito de liberação.

amigos relatam a delícia que é uma experiência assim, e do quando se lançaram a sentir de forma muito mais intensa o que já conheciam e experienciavam em sua vida intima. fico com invejinha, queria ser livre mas não sou, foi desesperante pra mim. maravilhoso no propósito, desesperante como tomar injeção doída, ou mexer em dente sem anestesia sabe, o benefício vem, mas o processo,.. socorro. 

não tenho problemas em relatar. o mundo aliás, é repleto de experiências aterrorizantes  de violências, a minha, a de infância, está bem longe de ser a pior, mas foi suficiente no dano.

na época buscava também liberar um pouco das dores do momento. tinha acabado de ir morar sozinha de novo. e queria limpeza, e o novo, sabe, e mesmo que com uma terapeuta, ou muito principalmente por tratar-se de uma, pudesse sobrepor os toques, tirar o registro, os vestígios daquele que teve certa abertura pra me tocar, me viver e ser comigo, por tantos anos, e que naquele momento estava estão doído administrar os efeitos, o desenlace, esse final tão triste e difícil, como todos. desconhecia essa pessoa do presente, queria arrancar ele do meu corpo, entregando  pra outro qualquer, a quem eu pudesse remeter quanto o assunto fosse toque, carinho, carícia, só sexo mesmo.

foi um primeiro passo.

no caso dessa sessão, teria sido importante uma sequência. teria sido bom pra numa continuidade dissolver o desespero, e ficar só com o gozo, já pensou que delícia, poder me assemelhar aos relatos deliciosos das outras pessoas?

mas tinha grana envolvida, tempo, e coragem pra dor, aai aquele composto básico. seria muito difícil, sinto ruim só de lembrar, o prazer chega por último. enfim.

minha segunda sessão foi um ano depois com um Alexandre.. nada como um nome de rei né, tão único no trono, e tão comum mas listas de preferência pros babys do mundo. mas aí entenda, nada terapêutico, se não eu descendo pro play, e interagindo e trocando, como sempre deveria ter sido.

fora eles, uma que outra pessoa perdida aí ao longo do tempo, que me cala,    promove esse instinto de aproximação, bem do jeito superfícial que eu não gosto, e não quero mais,  sem deixar de ter valor em si, e o das pessoas agregadas pra guardar na memória, ou na casa da amizade. 

eu fujo um pouco, sou fria por não ser, não gosto te dar minha fragilidade nem meu gozo, pra quem não está afim, ou pra quem não estou acostumada ou não considere digno de mim, a ponto de interajir com minhas fraquezas.  se não  tiver alguma sensibilidade, ou a estratégia de se envolver com elas a ponto de saber burlá-las, mais ou menos como tenho aprendido a fazer ao longo do tempo, não precisa. não forço ninguém, muito pelo contrário, a chave joguei na minha bagunça nem precisa procurar se verdadeiramente não quiser, por que eu, vou estar entretida. estarei muito focada em você, estarei mais afim do que é gostoso pra você,  no seu corpo, no seu cheiro, no teu sexo, no seu prazer. curiosa, é nisso que vou mergulhar, como se fosse meu. 

a hora que enjoar, tchau. com meu eu preservado, guardado.

assim é até mais fácil né, pensando.





receitinha de amor | trono da geração 

aquela florzinha, agrado de coração, a que você plantou talvez, ou roube de um visinho, funciona

um pedido e benção 

uma desistência, desfaça seus castelos-prisões, pede, a mão leva 

.. as ondas.., pede que leva

depois ganhe um colinho, do todo aquele azul